Presidente preocupado com “demasiados políticos” que “negam a realidade”

Da Redação
Com Lusa

O Presidente português Marcelo Rebelo de Sousa manifestou a sua preocupação com a existência de “demasiados políticos” que “negam a realidade” relativamente às alterações climáticas, salientando que Portugal permanece fiel aos Acordos de Paris.

“Estou preocupado com muitos políticos, demasiados decisores que negam a realidade, negam as alterações climáticas. Portugal continua empenhado nos Acordos de Paris. Mas muitos políticos não estão a atender a esta revolução. Sou professor de Direito e posso dizer que o Direito e a política estão muito atrás da ciência, tecnologia, economia e finanças”, disse, no palco central da Web Summit, que terminou nesta quinta-feira em Lisboa.

Na sua curta intervenção, o chefe do Estado agradeceu aos participantes na cimeira sobre tecnologia, mas também aos “milhares espalhados pelo mundo” que se dedicam a este tema, a “revolução científica e tecnológica” que estão a protagonizar.

“Vocês estão a fazer uma. Vocês são os transformadores porque estão a mudar o mundo. Estão a mudar a sociedade, economias, cultura e a forma de viver”, salientou. Marcelo Rebelo de Sousa afirmou-se ainda “orgulhoso de Portugal e dos portugueses”, que “ está a mudar” aceleradamente.

“Portugal tem feito uma mudança nos centros de investigação e nas universidades, nas redes internacionais. Temos alguns dos melhores cientistas. Isto é uma ocasião de um salto para a frente também neste domínio”, afirmou, já à saída do Pavilhão Atlântico, onde decorreu a cimeira.

O Presidente da República manifestou ainda o desejo de que, não apenas no próximo ano, mas “nos próximos”, Portugal volte a ser o anfitrião do importante evento de tecnologia.

EUA

Também discursou neste encerramento o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore, que apelou em Lisboa a que não se confundam os Estados Unidos com o atual Presidente, Donald Trump, afirmando que no seu país há vontade de continuar a lutar contra as alterações climáticas.

“Vamos cumprir o nosso papel apesar de Donald J. Trump”, declarou perante os aplausos de milhares de pessoas reunidas em Lisboa para fim da conferência tecnológica Websummit. Al Gore considerou que houve uma “viragem histórica” com a assinatura do acordo de Paris de 2015 para limitar o aquecimento global, apesar de Trump ter declarado que os Estados Unidos se iriam retirar do compromisso.

O ex-vice-presidente tornado ativista e investidor pelo clima afirmou que pelas regras do acordo, “os Estados Unidos só poderão sair no dia a seguir à eleição presidencial de 2020” e manifestou-se confiante de que a vontade política maioritária no seu país não coincide com a do Presidente.

Indicando que energias renováveis como a solar estão a ficar cada vez mais baratas, Al Gore reconheceu que da parte dos setores do carvão, gás e petróleo há uma vontade de “paralisar” o caminho em direção às renováveis.

“Acumularam durante anos riqueza, poder político e conhecimentos”, mas “chega de vez”, declarou. O planeta está à beira da “revolução da sustentabilidade”, considerou, acreditando que esta chegará “com a dimensão da revolução industrial e a rapidez da revolução digital”.

“Muitos dos que aqui estão já fazem uma diferença enorme”, reconheceu, dirigindo-se a uma plateia em que destacou a geração jovem que cria empresas para “fazer bom dinheiro mas também para fazer avançar o mundo”, para o que a tecnologia é uma aliada. “É claro que temos que mudar, o que é que pensam? Não podemos condenar as gerações que aí vêm à degradação e ao desespero”, defendeu.

O panorama, apontou, está à vista nas chuvas, furacões, incêndios florestais ou secas devastadoras, “como acontece em Portugal ou Espanha”, e nas dezenas de milhões que estão à beira da fome ou que tiveram que se deslocar por causa de fenômenos climáticos.

Gore afirmou querer “recrutar” a audiência de milhares para ser “parte da solução” para travar a “colisão entre a civilização humana e a natureza”.

Recordando lutas históricas como as travadas pelo fim da escravatura, pelo direito de voto das mulheres ou dos direitos dos homossexuais, afirmou que no fim, tudo se resumiu a uma escolha entre “o que está certo e o que está errado”.

“Está tudo em jogo”, garantiu, admitindo que há “quem caia no desespero porque pensa que não há vontade de mudar” e declarando que “a vontade também é um recurso renovável”.

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