Mundo Lusíada
Um espetáculo de alto nível no Theatro da Paz, em Belém, presenteou a comunidade portuguesa e paraense com o Concerto “Grêmio 150 Anos – Cada vez mais Luso-Paraense”. Os maestros Miguel Campos Neto, do Brasil, e Cesário Costa, de Portugal estiveram à frente da Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz na noite do dia 28 de setembro, muito elogiada pelo público presente.
Pela primeira vez em Belém, o maestro Cesário Costa falou com o Mundo Lusíada sobre a iniciativa que partiu de João Pignatelli, diretor do Instituto Camões no Brasil. “Já tinha feito um ciclo de música portuguesa em Brasília, e funcionou muito bem. Surgiu essa oportunidade de fazermos nos 150 anos do Grêmio. É um formato interessante que nunca tinha feito”, disse o maestro português que regeu músicas portuguesas, enquanto o maestro brasileiro, as canções brasileiras.
“É interessante a proximidade entre os dois países, da nossa língua, da nossa cultura. Julgo que pela reação das pessoas, elas gostaram e conheceram novas obras”, disse Cesário Costa. Ele destacou ainda trabalhar neste formato com o cruzamento entre músicas brasileira e portuguesa e com os músicos “extraordinários” da OSTP. “Fazer o concerto neste teatro que também tem um aspecto quase mágico, ser os 150 anos do Grêmio e poder dar a conhecer a cultura portuguesa, naquilo que posso ajudar na música sinfônica portuguesa, é muito importante porque todos saem a ganhar”, disse. Há espaço para que a mesma iniciativa seja repetida em outros estados brasileiros, especialmente em centros como São Paulo, defendeu ainda o músico português.
Da parte brasileira, Miguel Campos Neto que conduz a OSTP desde 2011 recebeu do secretário de Cultura do Estado, Paulo Chaves, a ideia de realizar um concerto da amizade Brasil-Portugal. “Isso mostra em primeiro plano a adaptabilidade da Orquestra, o quão flexível ela é de trabalhar o repertório de um país diferente, com elementos até folclóricos do país, com maestros diferentes. Este tipo de orquestra consegue trabalhar com maestros convidados de maneira muito fácil”, diz citando o trabalho de regência orquestral.
Fundada em 1996, a OSTP passou o último ano em comemorações pelos seus 20 anos. O atual maestro tocou violino, aos 17 anos, no dia de fundação da orquestra. Depois de 10 anos nos Estados Unidos, e uma passagem pela Orquestra de Manaus, Campos Neto retornou a Belém. “Vejo como um ciclo, comecei aqui e agora volto e estou numa posição que posso ajudar mais, também nas condições de trabalho para os músicos”, defendeu.
Citando a importância do Grêmio Literário, o maestro disse serem “dois poderes culturais” unidos nesse momento em prol da cultura no país. “Há uma grande contradição no nosso país, quer sempre se investir menos em cultura, como se fosse supérfluo. Entretanto, todos concordam que o problema do Brasil é cultural, não devíamos investir mais em cultura e educação?”, questiona. “Se a cultura do brasileiro fosse diferente, e não tivesse esse sentimento de sempre querer tomar vantagem, de repente não teríamos rombos bilionários de corrupção. Faz-me rir quando as pessoas querem diminuir a cultura. Numa noite como essa em que estamos comemorando 150 anos de uma agremiação literária binacional, com um concerto sinfônico com um maestro convidado, tudo faz sentido, e penso que é por esse caminho que temos que ir”.
Entre as canções “Suite Alentejana”, “Trenzinho do Caipira” e outras apresentadas, o concerto fez o público aplaudir em pé os artistas da noite, mostrando que o programa musical escolhido foi totalmente aprovado pelo público.