Da Redação
Com agencias
Pelo menos oito grandes incêndios ativos em Portugal continental trabalham com várias frentes ativas e 2.426 operacionais no terreno, apoiados por 738 viaturas e 32 meios aéreos. A conta foi divulgada pelo Notícias ao Minuto, que avança sem vítimas, apenas 11 pessoas feridas nestes incêndios, a maioria por inalação de fumaça.
O incêndio da Sertã é o que inspira maior preocupação, com 1.257 operacionais no terreno, 356 veículos e 10 meios aéreos. A situação em Mação está a melhorar, mas os incêndios de Vale do Coalheiro, em Castelo Branco, Penacova, Nisa e Gavião, em Portalegre, também estão a ser atingidas pelas chamas.
Segundo o presidente da Câmara de Mação, distrito de Santarém, durante esta tarde arderam duas casas em aldeias do concelho e que as chamas que lavram desde domingo estão longe de estar controladas.
Vasco Estrela disse que ardeu uma casa de primeira habitação na aldeia de Casas da Ribeira, habitada por uma idosa, e que na povoação estão ambulâncias e outros veículos de transporte para retirar cerca de 30 idosos que ali residem. De acordo com o autarca, outra habitação, esta devoluta, em São José das Matas, também foi consumida pelas chamas.
Vasco Estrela disse ainda que o número de frentes de fogo no concelho de Mação aumentou, durante a tarde, de três para “quatro ou cinco”. No final da tarde, o presidente da Câmara confirmou que uma parte “importante” do incêndio está controlada, mas que ainda há várias situações que preocupam os operacionais.
Futuro
Os incêndios que fustigam Portugal, França e Itália, atingidos por um período de seca, podem aumentar no futuro devido, nomeadamente, às alterações climáticas. Segundo um estudo europeu, as superfícies suscetíveis de se incendiarem na Europa do sul podem aumentar entre 50% e mais de 100% durante o corrente século, em função da intensidade do aquecimento global.
Uma especialista em clima do serviço de meteorologia francês, Michèle Blanchard, assinalou que as alterações climáticas podem “aumentar a duração e a gravidade da estação dos fogos, as zonas de risco e a probabilidade de grandes incêndios”, como os que sucedem em Portugal, França e Itália.
De acordo com a climatóloga, o aquecimento do planeta vai provocar “mais vagas de calor, e calor mais elevado”, com repercussões no solo e na vegetação, que ficarão mais secos. “No futuro, devido ao aquecimento global, vamos ter períodos de seca mais acentuados, especialmente no verão”, afirmou Michèle Blanchard, citada pela agência AFP.
Portugal, Itália e França (com exceção da ilha da Córsega, onde um incêndio levou hoje à retirada de mais de dez mil pessoas de habitações) tiveram, este ano, um inverno com menos 20% a 30% de chuva do que o normal. Em junho, quase 80% do território de Portugal continental encontrava-se em seca severa e extrema, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera.
Um estudo de 2014 sobre as consequências das alterações climáticas em Portugal revelou que as temperaturas subiram mais do que média mundial nos últimos 50 anos, gerando vagas de calor mais frequentes e períodos de chuva anuais inferiores.
Um outro estudo, de maio, e cuja primeira autora é a especialista em hidrologia e alterações climáticas Selma Guerreiro, da universidade britânica Newcastle, concluiu, com base em modelos climáticos representativos, que Portugal e Espanha podem ser atingidos até 2100 por ‘megasecas’, períodos de seca de dez ou mais anos.
Falhas
Para o presidente da Associação Nacional dos Bombeiros Profissionais (ANBP), os incêndios estão a ter este ano uma grande dimensão devido aos problemas no ataque inicial. Fernando Curto adiantou que há deficiências no ataque inicial de combate aos fogos porque esta primeira intervenção não é feita por bombeiros profissionais.
“A maior parte dos incêndios são extintos quando são detetados a tempo e com uma intervenção musculada no início”, sublinhou.
O presidente da ANBP disse ainda que a situação atual é “muito pior” do que em 2003 e 2005, tendo em conta que os problemas estavam já identificados e continuam por resolver. Entre os problemas, Fernando Curto aponta a organização, combate e profissionalização da proteção civil.
Os anos 2003 e 2005 foram os que registram piores incêndios florestais desde que há registros, tendo os fogos consumido uma área de cerca de 425 mil e 339 mil hectares, respectivamente. Os incêndios florestais já consumiram este ano 75.264 hectares, a maior área ardida no mesmo período da última década.