Mundo Lusíada
Com Lusa
Os Comandantes dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande e de Castanheira de Pera contrariaram relatório do Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal, garantindo que “houve falhas” durante o combate aos incêndios no centro de Portugal, que segue em investigação sigilosa.
O comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande, Augusto Arnaut, garantiu à agência Lusa que “houve falhas” no SIRESP. “Passados dois dias, reportei a quem de direito”, afirmou Augusto Arnaut, depois de questionado sobre o funcionamento do SIRESP.
O comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande não se quis alongar mais, limitando-se a reafirmar que reportou a situação “a quem de direito”.
Também o comandante dos Bombeiros Voluntários de Castanheira de Pera, José Domingues, contrariou a entidade operadora do SIRESP e sublinhou que “houve falhas” durante o combate ao incêndio em Pedrógão Grande.
“É lógico que houve falhas”, disse à agência Lusa José Domingues, reagindo ao relatório de desempenho do SIRESP, que concluiu que “não houve interrupções no funcionamento da rede” do sistema de comunicações durante o incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande (distrito de Leiria), mas que se registraram “situações de saturação”.
Segundo o comandante de Castanheira de Pera, terá havido “sobrecarga” dos canais ou a própria “falha das redes” levou às dificuldades de comunicação. “Só ao fim de quatro, cinco ou seis insistências é que conseguíamos comunicar com os operacionais ou com o posto de comando”, frisou José Domingues, referindo que o sistema devia estar preparado para a quantidade de comunicações realizadas durante o combate às chamas que afetaram o interior norte do distrito de Leiria.
“A informação apresentada permite concluir que não houve interrupção no funcionamento da rede SIRESP, nem houve nenhuma estação base que tenha ficado fora de serviço em consequência do incêndio”, refere o relatório de desempenho do Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP), publicado pelo Governo.
No entanto, a ‘fita do tempo’ das comunicações registradas pela Autoridade Nacional da Proteção Civil (ANPC) revela falhas “quase por completo” nas primeiras horas do incêndio em Pedrógão Grande, “impedindo a ajuda às populações”.
A ‘fita do tempo’ “resulta do Sistema de Apoio à Decisão Operacional (SADO) da ANPC, uma espécie de ‘caixa negra’ que permite registrar a sequência ordenada dos principais acontecimentos e decisões operacionais.
Os registros foram disponibilizados ao primeiro-ministro no dia 23, um dia depois de a ANPC ter enviado a António Costa as primeiras explicações sobre as falhas nos incêndios. “No primeiro documento era já deixado de forma clara que a rede SIRESP tinha falhado durante quatro dias”.
O primeiro registro da ‘fita do tempo’ é das 19h45 de sábado, hora em que começaram os problemas na rede de comunicações. Foi nestas primeiras horas que existiram vários pedidos de ajuda de pessoas cercadas pelo fogo, a que os comandos operacionais não conseguiram dar resposta imediata, devido às falhas nas comunicações.
O presidente da Câmara de Castanheira de Pera também disse que “é obrigatório repensar” a rede SIRESP para que falhas de comunicações não se voltem a repetir. “Gerir uma situação de crise sem comunicações, além de muito difícil, é muito perigoso”, sublinhou o presidente da Câmara, Fernando Lopes.
O INEM sinalizou 42 pessoas da zona afetada com necessidade de acompanhamento e de reavaliação, segundo a coordenadora do Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise (CAPIC). O Parlamento português deve discutir a reforma florestal após a entrega de petição nos próximos dias.