Brasil e Portugal têm maior percentual de mulheres na produção científica

Da Redação
Com ABr

Estudo divulgado em 22 de junho pela Editora Elsevier, considerada referência em produção científica no mundo, revela que Brasil e Portugal têm os maiores percentuais de participação feminina na produção científica dos países: 49%, considerando o quinquênio 2011-2015. No caso brasileiro, houve um crescimento significativo na comparação com 1996-2000, quando 38% da pesquisa do país eram feitos por mulheres.

O estudo Gender in the Global Research Landscape (Gênero no Cenário Global de Pesquisa, em tradução livre) mede o desempenho da pesquisa e representação de gênero em 12 países ou regiões geográficas (somente a Comunidade Europeia tem 28 países) e 27 disciplinas.

“O Brasil evoluiu bem em termos de presença feminina na pesquisa científica. No primeiro quinquênio pesquisado, já havia uma participação importante e nesse último quinquênio, a participação feminina pulou para 49%, colocando o Brasil em primeiro lugar junto com Portugal”, disse o vice-presidente de Relações Acadêmicas para a América Latina da Elsevier, Dante Cid.

Segundo ele, a participação das mulheres na pesquisa científica tem crescido em todas as regiões analisadas. No Brasil, está “praticamente com empate técnico” em relação aos homens, que aparecem com 51%. Nesse último quinquênio, o país que ficou mais abaixo em termos de participação feminina foi o Japão (20% contra 80% de presença masculina), embora o número de pesquisadoras tenha evoluído em comparação ao quinquênio analisado anteriormente (15%). “Mas ainda é bastante baixo por questões culturais, profissionais locais. Já o Brasil está conseguindo equilibrar bastante essa questão.”

Entre 1996 e 2000, nos 12 países ou regiões estudados, apenas em Portugal o percentual de participam mulheres na produção científica superava 40% do total. Já no período 2011-2015, nove países ou regiões mostraram participação de pesquisadoras igual ou superior a 40% (Austrália, Brasil, Canadá, Dinamarca, União Europeia, França, Portugal, Reino Unido e Estados Unidos). De acordo com o estudo, apenas Chile, México e Japão têm participação de mulheres na produção científica abaixo desse percentual.

Disciplinas

A análise feita por disciplinas revela que a presença feminina na pesquisa científica é muito maior que a masculina no Brasil em áreas ligadas à saúde, como medicina, bioquímica, genética, odontologia e enfermagem. Já os homens são maioria nas ciências exatas, entre as quais engenharia, física, computação, energia e ciências econômicas.

Segundo Dante Cid, entre as pesquisadoras da base de dados da Elsevier, 24% se dedicam à medicina; entre os homens, esse percentual é de 17%, ou 80,6 mil mulheres e 65 mil homens, em números absolutos.

Por causa desse perfil, o representante da Elsevier calcula que no próximo quinquênio a ser analisado, a participação de mulheres na produção científica brasileira deve ultrapassar de homens, em especial na área de saúde. “É muito possível que o percentual de mulheres no futuro próximo venha superar o dos homens.”

De acordo com a diretora da Academia Brasileira de Ciências (ABC), a doutora em física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Márcia Barbosa, a menor presença feminina na área das ciências exatas é um fenômeno mundial. “Eu descobri que era um ET[extraterrestre] no primeiro dia na faculdade de física”, lembrou. Dos 40 alunos no curso, segundo ela, quatro eram mulheres, mas apenas ela se formou.

Para a pesquisadora, as origens da baixa participação das mulheres nas áreas exatas está relacionada à maneira como se educam e ensinam as crianças, que associam desde pequenas máquinas e equipamentos a atividades masculinas, ao passo que as mulheres são ensinadas a ser mais sociais e a não serem vistas como “nerds”, pessoas muito dedicadas aos estudos.

O estudo constatou também que a presença feminina em relação a patentes é muito baixa no mundo inteiro. “Não chega a 20%”, destacou Cid. O país que tem presença maior feminina neste setor é Portugal, com 26%. O Brasil aparece em segundo lugar, com 19%, contra 11% no quinquênio anterior, superando países como França (17%), Estados Unidos (14%), Reino Unido (12%), Austrália (12%).

Igualdade

Na avaliação da diretora da ABC , o crescimento da participação feminina nas publicações científicas é um bom sinal para as pesquisadoras brasileiras.

“Significa que as coisas, lentamente, estão melhorando, mas, ao mesmo tempo, ainda não refletiu no poder. A gente está em igualdade de posições entre as pesquisadoras, mas o grande desafio é tentar manter essas pesquisadoras no mercado de trabalho, na medida em que avançam na carreira”, ponderou.

Segundo Márcia, é preciso estimular a presença e permanência de mulheres na produção científica. “Ter mais diversidade, pessoas com culturas diferentes, traz ideias novas para o ambiente de trabalho”, destacou. “O que a gente precisa fazer agora é manter essas mulheres no ambiente de pesquisa, viabilizando que elas possam crescer na carreira”, acrescentou.

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