Manuel Alegre vence o Prêmio Camões 2017, o 12º de um português

Da Redação

O poeta português Manuel Alegre foi eleito nesta quinta-feira o novo ganhador do Prêmio Camões, principal troféu literário da língua portuguesa. Com a escolha de seu nome, Portugal ganha seu 12º prêmio e se iguala ao Brasil. O Camões escolhe todo ano um escritor lusófono pelo conjunto de sua obra, que recebe 100 mil euros como prêmio. O último português a vencer o Camões havia sido a escritora Helia Correa, em 2015.

A cerimônia de entrega será em Lisboa, em data a ser acordada, como habitualmente, entre os governos brasileiro e português. O júri foi formado pelos escritores Jose Luiz Tavares (Cabo Verde), Lourenço Joaquim da Costa Rosário (Moçambique), Maria João Reynaud (Portugal), Paula Morão (Portugal), José Luís Jobim de Salles Fonseca (Brasil) e Leyla Perrone Moisés (Brasil) e se reuniu nesta tarde na sede da Biblioteca Nacional, no Rio.

O escritor Manuel Alegre declarou que recebeu a notícia com “serenidade e alegria”, considerando que o reconhecimento maior é o que vem de quem o lê. Em declarações à agência Lusa, o escritor disse que lhe dá “particular satisfação” a atribuição do prêmio, até porque Luís de Camões é um dos poetas que aprecia, e referiu ter reeditado recentemente o seu livro “Vinte Poemas para Camões”.

O Prêmio Camões, reconheceu o autor, “é o maior da Língua portuguesa, embora muitas vezes tenha sido atribuído de maneira controversa”. Para o autor de “Cão como Nós”, chegou a hora de lhe ser atribuído o Prêmio Camões, por um júri cujo mérito reconhece, “embora uns achassem que tenha sido tarde, outros cedo”.

“Recebi a notícia do prêmio com serenidade, com alegria, e sinto-me muito honrado, sobretudo porque do júri fazem parte pessoas distintas, que me merecem toda a consideração, e porque o prêmio tem um grande significado”, afirmou à Lusa o autor.

Manuel Alegre recordou os tempos em que cópias dos seus livros circularam clandestinamente, porque estavam proibidos, por Angola, Moçambique pelas comunidades portuguesas. “O meu reconhecimento maior é o que vem dos meus leitores através dos tempos, vencendo várias formas de censura. Naturalmente, uma distinção desta natureza tem o significado que tem”, disse à Lusa Manuel Alegre, de 81 anos.

O Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, classificou a atribuição como “uma homenagem justíssima a uma grande figura da literatura portuguesa”. “Nos termos do próprio prêmio, (Manuel Alegre) contribuiu e contribui para o enriquecimento literário e cultural, não apenas português, mas do mundo da lusofonia”, acentuou.

O Prêmio Camões de Literatura foi instituído pelos governos brasileiro e português em 1988 com o objetivo de consagrar um autor de língua portuguesa que, pelo conjunto de sua obra, tenha contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural de nossa língua comum. A Menção Internacional foi criada pelo Protocolo Adicional ao Acordo Cultural entre ambos governos representados, respectivamente, pela Fundação Biblioteca Nacional e pela Direção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas/Secretaria de Estado da Cultura de Portugal.

Alegre

Manuel Alegre nasceu em Águeda, Portugal, em 1936. Foi o primeiro português a receber o diploma de membro honorário do Conselho da Europa. Entre outras condecorações, recebeu a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade (Portugal), a Comenda da Ordem de Isabel a Católica (Espanha) e a Medalha de Mérito do Conselho da Europa.

Como poeta, começou a destacar-se nas coletâneas Poemas Livres (1963-1965). Mas o grande reconhecimento nasce com os seus dois volumes de poemas, Praça da Canção (1965) e O Canto e as Armas (1967), apreendidos pelas autoridades antes do 25 de Abril, mas com grande circulação nos meios intelectuais.

“O Canto e as Armas” é “o livro de uma geração, mas também um livro que se prolongou no tempo, enquanto voz de esperança numa pátria livre, e de denúncia da opressão política da ditadura salazarista, da guerra colonial, da emigração e do exílio a que muitos portugueses, como o próprio poeta, foram condenados”, assinalou o grupo editorial LeYa, em abril último, quando do lançamento da edição comemorativa dos 50 anos desta obra.

Passou 10 anos exilado em Argel, e sua voz ao microfone da rádio “A voz da liberdade” converteu-se num símbolo de resistência e liberdade. Seis poemas, cantados por muitos músicos portugueses, tornaram-se emblemáticos da luta pela liberdade. Em maio de 1974, voltou a Portugal e entrou no Partido Socialista onde, ao lado de Mario Soares, promoveu grandes mobilizações populares que consolidaram a democracia e a aprovação da Constituição de 1976.

Foi deputado, vice-presidente da Assembleia da República e candidato a presidente em 2011. É uma personalidade muito prestigiada e muito bem considerada, mesmo por aqueles que não são da sua família política. Sua estreia na ficção foi em 1989, com Jornada de África, e hoje tem uma vasta obra literária, traduzida e publicada em diversos países”.

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