Por Eduardo Neves Moreira
Diante do quadro que se nos afigura na realidade nacional, não podemos de nos deixar surpreendidos com a iminente possibilidade da efetivação de um Governo formado com a associação do PS ao BE e ao PCP. Ora, para quem acompanha o quotidiano da vida política do país nestas últimas décadas, essa união de forças à esquerda encontra imensas dificuldades de se harmonizar, diante dos objetivos e promessas eleitorais de seus integrantes. Qualquer concessão que ofenda os princípios norteados pelas direções partidárias, no exercício do poder governamental, poderá representar junto ao seu eleitorado, como uma traição aos seus objetivos e estatutos, criando sérias dificuldades para os seus líderes e para a governabilidade.
Não há dúvida que o partido que irá se confrontar com maiores dificuldades para se conduzir, dentro desse novo quadro, será o Partido Socialista, que, para conseguir manter a maioria que lhe permitirá continuar à frente do governo, será, obrigatoriamente, forçado a ceder às pressões e exigências dos seus “aliados” de extrema esquerda. Ao fazê-lo irá contrariar toda uma política desenvolvida pelo partido, como governo e como oposição, indispondo toda uma conduta partidária e com princípios supranacionais, aos interesses do seu atual líder, António Costa, apenas para incluir em seu currículo o cargo do Primeiro Ministro.
Como poderão os deputados socialistas votar a favor de iniciativas que contrariem frontalmente tudo o que apregoam ou apregoaram desde o início de suas atividades partidárias? Que expectativas eleitorais poderão esses parlamentares ter, quando permitirem o surgimento de nova legislação que ataque os princípios que norteiam a União Europeia e a manutenção do euro como padrão monetário nacional?
Resta-nos a esperança de que, um grupo esclarecido de Deputados eleitos pelo PS, forme um grupo interno voltado para os verdadeiros interesses nacionais e revolte-se contra essa vaidade pessoal do seu atual líder, fazendo um acordo paralelo com o PSD/CDS, restabelecendo a quem venceu as eleições o direito de governar o país. Apenas com condicionantes pré-estabelecidas de atendimento a propostas que grupo parlamentar rebelde e esclarecido do PS apresente, em prol da nação e da manutenção do projeto de recuperação econômica que o país vem desenvolvendo com êxito.
Cabe-nos lançar este desafio e pergunta aos deputados do PS: O acordo com os vossos tradicionais opositores, com propostas antagônicas aos princípios do vosso partido, em troca de um cargo de Primeiro Ministro fragilizado, será que valerá a pena ou a vossa alma de cidadãos apoiantes do desenvolvimento, do apoio ao europeísmo e ao euro, ficou pequena?
Por Eduardo Neves Moreira
Ex-Presidente do Conselho Permanente das Comunidades Portuguesas
Ex-Deputado do PSD na Assembleia da República