Mundo Lusíada
Com Lusa
O primeiro-ministro português sublinhou, na noite de 07 de julho em Bruxelas, a urgência de um acordo com Atenas, afirmando que se “até final da semana não for possível chegar a um entendimento”, Grécia e a zona euro “têm que se preparar para o pior”.
Falando numa conferência de imprensa no final de uma cimeira da zona euro, Pedro Passos Coelho disse esperar “que haja desenvolvimentos positivos nos próximos dias”, mas admitiu que se não for possível fechar um acordo até domingo será necessário preparar outros cenários, embora referindo que não foi discutida a saída da Grécia da zona euro.
“Estamos a falar de uma situação muito grave e muito urgente para resolver. E ela tem de ser resolvida de acordo com este calendário. Se até ao final da semana não for possível chegar a um entendimento, então quer o governo grego, quer a zona euro terão que se preparar para o pior”, disse, referindo-se a uma saída da Grécia da zona euro, o chamado “Grexit”.
Não querendo antecipar tal cenário, Passos Coelho admitiu todavia que o mesmo “é possível”, atendendo a que, “até hoje”, e após “mais de cinco meses de negociações”, não foi possível “encontrar um meio de entendimento”. Passos Coelho disse que todos têm consciência de que serão tomadas “todas as medidas que forem necessárias para preservar a integridade da zona euro e da moeda única”, e reiterou que a Europa dispõe de “diferentes instrumentos, comparativamente a 2010, para este tipo de situação”.
O primeiro-ministro observou que, face à situação de emergência a que a Grécia chegou, o novo programa de reformas terá que ser forçosamente “mais ambicioso” do que se exigia há alguns meses, da mesma forma que as necessidades financeiras associadas a um terceiro programa de assistência – que Passos Coelho frisou que terá que ser o último – são também maiores do que eram anteriormente.
“Do ponto de vista político, é urgente e indispensável que seja retomada a relação de confiança e previsibilidade entre as partes. Do ponto de vista econômico, o ponto em que nos encontramos hoje é incomparavelmente pior do que aquele que nos encontrávamos em janeiro, e, por isso, um eventual acordo implicará um muito maior compromisso financeiro do lado dos parceiros da Grécia, provavelmente duas vezes maior, e uma grande capacidade de implementação por parte do governo grego, com novos sacrifícios do povo grego”, enfatizou Passos Coelho.
Apontando que Tsipras ficou de apresentar no prazo de dois dias um “programa com todas as medidas de natureza financeira e de natureza estrutural” que o governo se propõe implementar para “fechar” o terceiro programa, de modo a que possa ser avaliado pelo Eurogrupo, Passos Coelho voltou a lamentar que as negociações se tenham arrastado ao longo de quase meio ano.
Portugal no caminho
Para o sociólogo Boaventura de Sousa Santos o euro tem de ser reestruturado, sob pena de em Portugal vir a acontecer o que está a suceder na Grécia, em risco de abandonar a moeda única. “Sou a favor deste euro, não deste euro, este euro tem de ser reestruturado porque o que acontece hoje na Grécia, pode acontecer amanhã em Portugal”, disse à agência Lusa Boaventura de Sousa Santos.
Para Boaventura de Sousa Santos, os dados apresentados num estudo sobre Portugal precisam de enquadramento ao nível social e político: “Sabemos que a emigração tem aumentado e que o rendimento médio dos portugueses tem divergido do dos europeus”.
O sociólogo recordou que, quando Portugal entrou para a então Comunidade Econômica Europeia (CEE), a lógica era de convergência, um percurso que abandonou no virar no século, para se instalar uma dinâmica de divergência. “Tudo isto tem muito a ver com este euro e com a forma como a ‘troika’ tratou a crise», referiu à Lusa, sublinhando que houve um empobrecimento muito rápido e que a questão da dívida está longe de ser resolvida. Países como Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda, prosseguiu, foram muito afetados pela entrada no euro, «uma moeda muito forte”.
O sociólogo considerou que houve, nos últimos anos, “erros fatais” e que Portugal, “ao contrário do que se diz”, não é um caso de sucesso: “É um caso muito problemático, talvez o mais problemático a seguir à Grécia. Isto está nos relatórios do Fundo Monetário Internacional” (FMI).
Uma política de unidade fiscal para as empresas, para que não mudem as sedes para países com vantagens fiscais face ao país de origem é uma medida que defende para que a Europa seja de fato uma União e não uma competição entre povos. “A Europa não está preocupada com a criação de emprego. Este euro é insustentável”, argumentou. Se não houver uma inversão de políticas, Boaventura de Sousa Santos antevê que a Grécia continuará “a ser saqueada” e países como Portugal “também aguentarão” a pressão.
Proposta de Atenas
O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, adiantou que a proposta que a Grécia vai apresentar brevemente aos credores inclui “uma solução para o problema da sustentabilidade da dívida”. A dívida pública grega representa cerca de 180% do Produto Interno Bruto, ou seja, quase o dobro da riqueza produzida no país.
O fundo de resgate da zona euro já recebeu o pedido formal da Grécia de um terceiro programa de ajuda financeira, de acordo com fonte oficial, citada pelas agências de notícias, para um novo programa a três anos.
Até quinta-feira, Atenas deverá dar conta das reformas que está disposto a tomar em troca de um novo pacote financeiro. Essas medidas serão avaliadas pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional.