Crise: Grécia diz Não e europeus acreditam que Portugal não será contagiado

Manifestantes seguram um cartaz durante uma manifestação de apoio à Grécia organizada pelo grupo Solidariedade Grécia, Lisboa, 4 de julho de 2015. JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA
Manifestantes seguram um cartaz durante uma manifestação de apoio à Grécia organizada pelo grupo Solidariedade Grécia, Lisboa, 4 de julho de 2015. JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Mundo Lusíada
Com agencias

O ‘não’ às propostas dos credores obteve 61,31% no referendo de domingo na Grécia, divulgou o Ministério do Interior grego. Com a totalidade dos votos contados, o ‘sim’ foi a escolha de 38,69% dos gregos enquanto 5,80% dos votos foram considerados brancos ou nulos. A abstenção foi de 37,5%, num universo de quase 10 milhões de eleitores, de acordo com os mesmos dados.

A Comissão Europeia defendeu que a “estabilidade da zona euro não está em questão” e que existem atualmente as “ferramentas necessárias” para prevenir que a instabilidade financeira se propague a outros Estados-membros do euro, como Portugal.

Numa conferência de imprensa em Bruxelas, no dia seguinte à vitória do ‘Não’, o vice-presidente da Comissão responsável pelo euro, Valdis Dombrovskis, questionado sobre o risco de a situação na Grécia afetar países como Portugal e Irlanda, que também estiveram sob programa de assistência, defendeu que a Europa dispõe hoje dos meios para proteger “as economias mais vulneráveis” e observou que, para já, “as reações dos mercados foram muito limitadas”.

“Temos tudo o que necessitamos para gerir a situação. Temos uma união bancária para garantir a estabilidade do setor financeiro, temos um mecanismo europeu de estabilidade com um poder de fogo de 500 mil milhões de euros para ajudar as economias mais vulneráveis, temos governação econômica e orçamental mais forte, e o Banco Central Europeu está a fazer uso pleno das suas ferramentas para assegurar a estabilidade”, disse.

Nesta segunda, o ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, decidiu demitir-se, a pedido do primeiro-ministro e para o final do dia está agendado um encontro entre os chefes de Estado francês e alemão para discutir a crise atual. Na terça-feira, em Bruxelas, acontece uma reunião do Eurogrupo e uma cimeira de líderes da zona euro.

Já o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, afirmou na noite do dia 05 que o referendo mostrou que a democracia não pode ser chantageada, recusando que ele signifique uma ruptura com a Europa. “Quero agradecer a todos, independentemente de como votaram. Os gregos fizeram uma escolha corajosa, que vai mudar o debate na Europa”, disse Tsipras num discurso transmitido pela televisão.

Também o Governo dinamarquês considerou que Portugal não será contagiado pela crise grega e defendeu a permanência do país na zona euro e na União Europeia, lembrando as responsabilidades de Atenas no combate ao crime transfronteiriço. “A Grécia deve implementar reformas sérias”, disse o chefe da diplomacia dinamarquesa, descartando a possibilidade de a situação afetar Portugal, Espanha ou Itália, já que estes países já passaram por este processo.

A economia da Dinamarca, que não pertence à zona euro, não será afetada diretamente por esta situação, disse o liberal Kristian Jensen, defendendo que a permanência de Atenas na moeda única e na União Europeia é fundamental: “A Grécia tem uma situação estratégica, é importante que na luta contra a criminalidade transfronteiriça cumpra com as suas obrigações como membro da UE”, argumentou.

Portugal: Aprender a Lição
Em Portugal, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, defendeu que o Governo devia “aprender a lição” do povo grego ao recusar o acordo imposto pelos credores internacionais, mas não acredita numa alteração da posição portuguesa. “Não verificamos nenhuma vontade de alterar o posicionamento, porque o Governo, tal como o Presidente da República, tiveram um papel profundamente negativo, que não nos orgulha, um posicionamento de falta de brio patriótico, de seguidismo inaceitável”, afirmou Jerónimo de Sousa, perante a vitória do “não” no referendo grego.

A vitória do “não” representou uma “rejeição clara por parte do povo grego das políticas e das medidas de empobrecimento e de exploração” a que está sujeito, e também “uma vitória sobre a chantagem e a pressão inaudita que se verificou nestes últimos tempos, procurando vergar e humilhar aquele povo”, acrescentou. “Com a sua posição em relação ao referendo, quis demonstrar não é que quer morrer de pé, antes pelo contrário, é um povo que quer viver de pé, com dignidade através da afirmação da sua soberania”.

Para Jerónimo de Sousa, a decisão da Grécia “deveria ser exemplo para o governo [português], que alinhando com os poderosos, com o diretório de potências, com as instituições da União Europeia, com o FMI [Fundo Monetário Internacional], procura com esse apoio tentar branquear aquilo que foi o seu posicionamento sempre de submissão, de seguidismo, em relação a essas orientações, aos ditames, aos instrumentos que a União Europeia e o FMI têm imposto aos povos”.

Já o secretário-geral do PS considerou inaceitável se a decisão grega em referendo conduzir à exclusão do país do euro, exigindo que o Governo português defenda a integridade irreversível da moeda única e nova abordagem da crise financeira. “A decisão soberana do povo grego de rejeitar a proposta de acordo que foi submetida a referendo tem de ser respeitada, como o foram, aliás, em outras ocasiões, deliberações referendárias de outros Estados membros. É absolutamente inaceitável que a recusa desta proposta seja entendida como recusa de participar na zona euro ou possa servir de pretexto para tentar, ao arrepio dos tratados, excluir a Grécia do euro”, advertiu o líder socialista Antonio Costa.

“A Grécia é a mais dramática ilustração dos fracasso das políticas de austeridade” e “agora que a Grécia se expressou em liberdade, é o momento de agirmos em defesa do projeto europeu”, declarou Costa.

Para a vice-presidente da bancada do CDS-PP Cecília Meireles, o Governo grego deve agora apresentar “soluções alternativas, viáveis e executáveis”, dispensando “retóricas ideológicas”. “Tendo o povo grego confirmado este ‘não’, compete naturalmente agora às autoridades gregas, nomeadamente ao seu Governo, apresentarem soluções alternativas, viáveis e executáveis”, referiu a deputada em declarações à agência Lusa.

Também o vice-presidente do PSD Marco António Costa disse que o resultado no referendo de Atenas coloca nas mãos do governo helénico o “dever” de apresentar uma solução para o país. Tal solução, acrescentou o social-democrata, deverá encontrar um equilíbrio entre as “legítimas aspirações dos gregos” mas tendo em conta o “respeito pelas regras da união monetária”. “Não é tempo para exaltações, muito menos para precipitações, antes de [haver] diálogo com realismo e responsabilidade”, prosseguiu Marco António Costa.

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