Empresas portuguesas devem diversificar para outros mercados como Angola, diz Câmara Comércio

Da Redação
Com Lusa

angola_bandeiraAs empresas portuguesas devem diversificar investimentos para outros países e investirem na produção em Angola, em alternativa às exportações, como forma de minimizarem os impactos da situação econômica angolana, defende o presidente da câmara de comércio Portugal-Angola.

“As empresas portuguesas já revelaram grande capacidade de adaptação e, num momento em que o mercado angolano tem menor dinamismo será uma boa oportunidade para procurarem a fixação local de alguns negócios em Angola e começarem a produzir localmente alguns produtos, que possam substituir importações, ou procurar outros mercados, porque isso é uma boa prática de qualquer empresa, não estar demasiado concentrada em nenhum dos mercados”, afirmou em entrevista à Lusa o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Angola, Paulo Varela.

Para o gestor “o passado recente tem demonstrado que as economias oscilam” e não há melhor forma de garantir a sua viabilidade das empresas do que “estar com uma presença internacional diversificada”.

Contudo, sublinha, isto não quer dizer que não continuem a “olhar para Angola como um destino privilegiado, que deve continuar a ser, mas com algumas cautelas”, procurando “mecanismos alternativos para suportar algumas questões de tesouraria que possam ocorrer”.

Os países da África lusófona, além de Angola, com destaque para Moçambique, “um destino privilegiado e que vale a pena considerar”, assim como os da África austral e os da América Latina, são alguns dos mercados onde aconselha as empresas portuguesas a analisarem oportunidades.

México, Colômbia e Peru, realçou, “têm taxas de crescimento muito interessantes”, apesar de existirem algumas incertezas.

Às empresas portuguesas, que tem uma presença estruturada e de longo prazo no mercado angolano, o que aconselha é que, procurem também “estabelecer uma parte do processo produtivo em Angola”.

“É uma forma de reavaliar o modelo de negócio e ver até que ponto é possível substituir algumas exportações de produtos fabricados cá em Portugal, para no todo ou em parte começarem a ser fabricados lá. Até porque é uma tendência inevitável”, afirmou.

O gestor defende que é um desejo do Governo angolano aumentar a base produtiva do país, uma opção que não “mudará num futuro próximo” e se manterá mesmo quando passado “este período de maior aperto, decorrente da situação conjuntural que se vive”.

Reconhece que ainda há dificuldades, entraves burocráticos e restrições decorrentes da fragilidade de algumas infraestruturas, que tem de ser ultrapassadas, mas também considera que estes aspetos melhoraram muito nos últimos anos.

Sobre os impactos da crise em Angola ao nível do país e para as empresas portuguesas, Paulo Varela diz que ainda não é possível avaliar a “real dimensão das consequências” da situação econômica.

Tudo vai depender muito do período em que se manterão os preços baixos do crude. “Se for passageiro” e dentro de seis meses se regressar a um valor intermédio do petróleo (70 dólares), “a situação poderá não ter a gravidade que hoje podemos antecipar”, considerou.

Ainda assim, admite que o investimento direto no país já terá sofrido uma redução, embora ainda não disponha de números concretos, e pode continuar a baixar no curto prazo.

“Será expectável que algumas empresas, podendo fazê-lo, se o investimento estiver numa fase em que possa ser diferido no tempo, possam fazê-lo, como medida cautelar”.

Mas em termos de grandes planos de investimento, plurianuais, Paulo Varela acredita que não sejam substancialmente alterados. “Podem é ser adiados, diferidos no tempo”.

“Um ritmo menor de investimento que tenha de ser feito, é razoável e normal e tem a ver com a gestão das disponibilidades de caixa de cada empresa, é uma boa prática”.

Face a este ritmo menor de investimento, quer da parte das empresas portuguesas quer de outras estrangeiras que operam no mercado angolano, o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Angola, admite que o país deixe de ser, como foi até agora, um mercado alternativo de emprego para os portugueses.

“É possível que haja algumas empresas que se vejam forçadas a reduzir um pouco os seus quadros e, por essa via ter impacto no emprego cá. Mas admito que nos próximos tempos não será de antecipar um grande crescimento das ofertas de emprego, mas também não terá que haver uma redução significativa. É aguardar com serenidade”.

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