Mundo Lusíada
Com Lusa
Os acionistas da PT SGPS deram luz verde à venda da PT Portugal aos franceses da Altice, com 97,81% de votos favoráveis.
A venda da PT Portugal foi aprovada com 97,81% dos votos favoráveis do Novo Banco, Ongoing, Visabeira e Controlinveste, numa reunião que contou com 44% do capital presente ou representado, mas apenas 34% de capital votante, já que os brasileiros foram impedidos de votar por conflito de interesses. Os votos contra atingiram apenas os 2,19%.
Na reunião magna estiveram presentes 398 acionistas, totalizando os votos presentes os 548.444. Os acionistas da PT SGPS retomaram a assembleia-geral para decidir a venda da PT Portugal à Altice, que tinha sido suspensa a 12 de janeiro para obterem mais informação, nomeadamente pareceres jurídicos sobre a fusão com a Oi.
O ministro da Economia, António Pires de Lima, disse esperar que a PT Portugal encontre nos novos investidores franceses da Altice um acionista estável e com capital para desenvolver a empresa de telecomunicações.
“Espero que a PT Portugal encontre nestes investidores franceses um acionista estável e com capital para desenvolver a empresa, aquilo que precisamente a empresa não teve nos últimos anos, e que corresponda a um virar de página”, disse Pires de Lima à Lusa, por telefone, da Suíça, onde participa no Fórum Econômico Mundial (WEF), em Davos.
“Quem investe assim em Portugal, seguramente tem uma preocupação grande em valorizar o seu investimento e em desenvolver a empresa que acabou de adquirir”, sublinhou Pires de Lima.
“Eu demonstrei a minha atenção e preocupação com as consequências que toda esta indefinição acionista tinha ou poderia ter na PT Portugal, que é uma empresa muito relevante para a nossa economia e que emprega diretamente 10 mil pessoas”, sublinhou Pires de Lima.
O ministro referiu que desejou que “esta assembleia-geral se realizasse” e considerou que o resultado foi “muito clarificador”. “Acho muito importante para Portugal que exista um investidor que aposta 7,4 bilhões de euros numa empresa portuguesa seis ou sete meses depois de termos saído do programa de assistência financeira”, declarou ainda Pires de Lima.
“Portugal precisa de investimento e é muito importante destacar e saudar o fato de um investidor francês investir numa empresa portuguesa, e em Portugal, neste momento”, concluiu o ministro da Economia.
Respondendo a jornalistas, Pedro Passos Coelho se referiu ao “desfecho de um negócio que é privado”, afirmou esperar que a empresa “possa finalmente ter condições para reencontrar um caminho de estabilidade acionista e de gestão para poder continuar a prestar bons serviços à economia portuguesa”. O Primeiro-Ministro afirmou também que “é importante para uma grande empresa portuguesa, como é a PT, que haja estabilidade acionista, estabilidade em termos de administração, porque mesmo uma boa empresa como é a Portugal Telecom precisa de ter um corpo acionista estável e uma liderança garantida pela administração”.
Acionistas
O presidente do Conselho de Administração da PT SGPS, João Mello Franco, afirmou que a venda da PT Portugal foi “a melhor solução”, depois do projeto inicial ter sido alterado. “Na prática, o projeto foi todo alterado, foi uma pena enorme”, já que se perdeu “o entusiasmo que havia inicialmente”. Por isso, a venda “é a melhor solução”, comentou o presidente da PT SGPS.
Mello Franco disse ainda perceber “a posição de muitos pequenos acionistas que acompanharam a empresa desde há muito tempo”, mas salientou que a “própria estabilidade da PT Portugal era importante”. E recordou que a própria Oi tinha optado por focar o seu âmbito no Brasil.
A Oi, a terceira maior acionista da PT, divulgou comunicado comemorando a venda. “Com a venda, a PT Portugal fica mais forte para atuar em Portugal e a Oi fica mais forte para operar no Brasil, com redução das respectivas alavancagens”.
Críticas em Portugal
O Bloco de Esquerda manifestou “indignação” pela aprovação em assembleia-geral da venda da PT, acusando o Governo de ter sido “cúmplice” da venda de uma das mais importantes empresas portuguesas a um ‘fundo abutre’.
“Ao não querer agir e proteger o país, ao não liderar uma alternativa à venda da PT Portugal, o Estado é cúmplice da entrega da empresa que tem o monopólio das infraestruturas de comunicações, uma empresa que tem centros de investigação, que emprega milhares de trabalhadores a um ‘fundo abutre’”, afirmou a deputada do BE Mariana Mortágua.
Para a deputada bloquista, “o Estado foi conivente com a entrega de uma das mais importantes empresas portuguesas ao capital estrangeiro, que tem como único objetivo retirar lucro e dividendos da PT Portugal, tal como já fizeram com a PT SGPS no passado, com um futuro incerto para os trabalhadores, um futuro incerto para a economia nacional”.
Também o PCP considerou que a venda serviu “para maximizar o lucro dos acionistas” e acusou o Governo de ser um “agente ao serviço dos interesses dos grupos econômicos e financeiros”. Vasco Cardoso, membro da Comissão Política do PCP, disse que “o que se impunha ao Governo era que iniciasse o processo de recuperação do controle público” da empresa.