Por Vanessa Sene
Em 10 de dezembro, a Casa de Portugal de São Paulo comemorou 79 anos de fundação homenageando com a Comenda da Ordem do Mérito do Infante D. Henrique o jurista e escritor Ives Gandra da Silva Martins, colunista do Mundo Lusíada e um dos mais respeitados juristas do país. O presidente Antonio dos Ramos deu início a solenidade numa “noite muito especial” para a Casa de Portugal, que segundo ele, traz um calendário sócio cultural dinâmico para a sociedade evidenciando a cultura portuguesa e brasileira.
Já foram distinguidas com essa comenda apenas 75 personalidades na história da Casa de Portugal, o que comprova o seu rigor, defendeu Antonio dos Ramos. E elogiou o homenageado da noite Ives Gandra, filho de um grande português que marcou presença durante muitos anos na entidade, José da Silva Martins.
Antes da solenidade, o jurista Ives Gandra conversou com nosso jornal informando em primeiro plano que ele e sua esposa Ruth são cidadãos portugueses. “Sou catedrático da Universidade do Minho, e fui por dez anos presidente da Assembleia Representativa da Casa de Portugal, de 1970 a 1980. Tenho meu coração aqui na casa, agora receber da casa que sempre frequentei esta homenagem isso me sensibiliza sobremaneira” declarou Ives citando o seu pai que frequentou a entidade praticamente desde a fundação.
“Há certas homenagens que recebemos de instituições por conta de uma palestra ou um artigo de jornal, essa não, é uma instituição que sempre esteve no meu coração e tem um significado muito mais especial”.
Por muitos anos dando aulas em Coimbra e Lisboa, Ives Gandra da Silva Martins vai a Portugal desde 1964, quando foi eleito conselheiro para a América Latina da União das Comunidades Portuguesas, em que o português Adriano Moreira era presidente, além de ser da Academia Internacional de Cultura Portuguesa. “É a minha segunda pátria, eu não esperava porque sempre me senti da casa, agora a própria Casa de Portugal fazer isso me sensibilizou muito”.
Reconhecido em todo país, colunista de diversos jornais, declarou que nunca quis ser diferente de advogado, professor e poeta, foi ainda presidente da Academia Paulista de Letras, apesar “de ser um mau poeta” disse, lançou agora uma união de todas as suas poesias numa obra intitulada Poesia Completa. “Tenho minha mulher que namoro há 61 anos, entramos juntos na faculdade, foi minha colega de turma, com meus filhos, sete netos, genro e nora, e sendo advogado nunca aceitei cargo público, fui convidado três vezes para Ministro, nunca aceitei. Tenho impressão que nunca fui de decepcionar em nada mas sempre fui esforçado”.
Convidado a discursar sobre o homenageado, o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, José Renato Nalini começou por dizer que Ives Gandra da Silva Martins é um nome citado por juízes de toda República, um jurista que se sobressai no Direito Tributário, conclamou diversas vezes para que o país passasse por uma Reforma Política. Nalini citou ainda a “dimensão cristã impressa em seus atos”, dizendo que o homenageado “prega o que vive, vive o que prega”. Além de ser apaixonado por sua Ruth até hoje, tem Portugal no sangue, e cresceu em “sólidos valores lusitanos”. Segundo o advogado amigo, Ives trabalha com uma consciência lúcida, ética e cristã.
Em agradecimento, Ives Gandra da Silva Martins começou por dizer que recebeu a indicação do seu nome com emoção. Ele teve uma formação, juntamente com os irmãos, de respeitar duas pátrias, Brasil e Portugal. “Quando papai fez 100 anos, duas cartas manuscritas chegaram durante o café da manhã. Uma do presidente do Brasil e outra do presidente de Portugal” contou Ives. A terra de seu pai, o Minho, foi mais tarde palco acadêmico para o filho.
Citando a história, Ives ainda mencionou a época das navegações portuguesas, quando Portugal conseguiu iniciou a criação de uma nação com cultura própria. Citou três grandes momentos da humanidade: quando o homem descobriu o fogo e criou povoados, a conquista do espaço quando o homem chega à lua, e as grandes descobertas nas navegações, o que se deve a genialidade de Infante Dom Henrique. Encerrou dizendo que os valores cristãos vieram com as descobertas lusíadas, e que a Casa de Portugal é uma casa que defende valores.
A Casa
Durante o coquetel da noite, o presidente da Casa de Portugal falou ao Mundo Lusíada sobre os eventos que a entidade procura fazer atraindo o público brasileiro e português. “Nossa finalidade desde o início dessa gestão é atrair o maior número de brasileiros possíveis, não só luso-descendentes” diz Antonio dos Ramos que pretende permanecer mais um mandato a frente da casa, e quer atingir esse objetivo nos próximos dois anos. “Não podemos ficar só ligados a portugueses que são cada vez menos,e os luso-descendentes nem sempre aderem nossas coisas. A Casa de Portugal tem que conquistar São Paulo, é uma casa com nome, espetacular, e tem que promover eventos mais universais”.
Neste aspecto também manter um rigor nas homenagens a personalidades, como falou anteriormente sobre a comenda entregue este ano a Ives Gandra Martins. “Escolhemos a dedo para valorizar a comenda, para alguém que realmente tenha contribuído para a comunidade. É o caso do Ives, é o caso do Silvio Santos, e do Fernando Henrique Cardoso” disse o presidente citando as comendas que foram entregues neste ano pela diretoria da casa.
Ao citar o homenageado deste ano, Antonio dos Ramos destacou que já deveria ter sido entregue comenda há muitos anos, como merecia o seu pai e seus irmãos, o maestro João Carlos Martins e o pianista Eduardo Martins que já tocou na casa, e fazem um trabalho elogiável e reconhecido em todo país.
“Vamos ver se para o ano que vem enchemos esta casa de brasileiros e portugueses” afirmou Antonio dos Ramos, contando com grandes shows para 2015 e grandes nomes da música brasileira e portuguesa. Segundo ele, este ano foi atípico e interrompido pela Copa do Mundo e eleições. “O ano passado foi melhor que este, estamos a comemorar simultaneamente o aniversário e o natal hoje, ficaria um pouco rotineiro uma ceia de natal, optamos por um show de fados”. Ao Mundo Lusíada, Susana Travassos disse que esteve pela primeira vez na casa.