Sem imprensa local, não há democracia

É do conhecimento geral que a imprensa portuguesa atravessa, atualmente, grave crise.

As vendas diminuíram, assim como a publicidade, devido, em parte, á crise econômica que abalou o País.

Diários de referência, centenários, extinguiram-se nos últimos anos e os que se publicam, em geral, sofrem séries dificuldades de tesouraria.

Mesmo assim, os de âmbito nacional continuam a ser disputados por grupos financeiros e políticos, no intuito de influenciarem a opinião pública, mesmo cientes que as empresas jornalísticas deixaram, há muito, de serem bons negócios.

Se no tempo do Estado Novo, o governo controlava a informação e crónicas de opinião, por rigorosos sensores, com a chegada da democracia, a censura passou a ser exercida pela direção dos matutinos, muitas vezes dependendo do poder político ou económico.

Mais difícil é calar a voz, incomoda, da imprensa local.

Com limitada área geográfica, quantas vezes, a um concelho, tendo colaboradores, na sua maioria, da terra, publicando, em norma, acontecimentos que apenas interessam aos habitantes das localidades, tornam-se, por vezes, incómodos para as autarquias e partidos políticos.

Se é verdade incontestável, que a imprensa nacional encontra-se em crise, os jornais locais, na maioria, travam lutas titânicas, para sobreviverem com dignidade.

As verbas que outrora as autarquias destinavam à imprensa, extinguiram-se ou foram substancialmente reduzidas Verdade sejam ditadas, que, em certas localidades, serviam mais para “ amordaçar” as publicações, que auxiliá-las.

A maioria dos pequenos jornais sobrevivem, graças à carolice do diretor e amigos, assentes, em norma, em projetos ou ideais políticos ou religiosos.

Não sendo negócio vendável, são, em geral, pesados fardos para quem os mantêm e causadores de fortes dissabores para quem os dirige.

Seria normal e aconselhável, que em países democráticos, a imprensa local fosse acarinhada.

Não digo com subsídios estatais, mas com porte de correio, parcialmente pago, pelo menos para o estrangeiro, já que são pontes de união de emigrantes e a terra natal, e veículo de difusão, por excelência, da língua portuguesa.

Infelizmente o poder politico não é desse pensar.

Todavia, quer se queira ou não, o futuro da imprensa encontra-se nos periódicos de proximidades, que relatam ocorrências locais.

Já Eça de Queiroz em “Cartas Familiares e Bilhetes de Paris” afirmava, que interessa mais o que acontece junto de nossa casa, que tragédias e guerras em nações longínquas.

Cabe aos partidos políticos, que defendem a democracia, apoiarem meios para que a imprensa regional possa sobreviver com independência, continuando a cumprir a nobre missão de difundir a língua entre os núcleos portugueses e brasileiros, espalhados pelo mundo.

 

Por Humberto Pinho da Silva
De Portugal

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