Em meio a polêmicas, portugueses e estrangeiros chegam para programa “Mais Médicos”

Mundo Lusíada
Com agencias

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, recebe os profissionais estrangeiros do Mais Médicos começam a participar do curso de preparação, com aulas sobre saúde pública brasileira e língua portuguesa. Foto: Elza Fiuza/ABr
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, recebe os profissionais estrangeiros do Mais Médicos começam a participar do curso de preparação, com aulas sobre saúde pública brasileira e língua portuguesa. Foto: Elza Fiuza/ABr

Os profissionais estrangeiros e brasileiros formados no exterior, que começaram a chegar em 23 de agosto ao Brasil, dizem que aderiram ao Programa Mais Médicos pela oportunidade de ampliar a experiência profissional e atender a população que mais precisa.

O português Miguel Alpuin, clínico geral, com 70 anos de idade, está entre os médicos mais velhos contratados pelo programa do governo federal para trabalhar no Brasil. Aposentado há seis anos, ao desembarcar no Galeão, ele disse que resolveu voltar à atividade médica atraído pelo desafio do Programa Mais Médicos e pelo amor à profissão. “Com a minha idade, em Portugal já não se pode trabalhar, e este programa é muito interessante, eu não quero parar. Não me sinto com 70 anos. Eu gosto muito de atender doentes”. Ele vai trabalhar em Gaspar, município de Santa Catarina. O critério usado para escolher o local foi o clima “porque me dou muito mal com o calor”. Para ele, a bolsa de R$ 10 mil que vai receber é justa e próxima ao que recebe um médico em Portugal.

Maria Teresa Aguiar, portuguesa de 59 anos, com especialização em medicina geral e familiar, vai para Almirante Tamandaré, no Paraná. Ela declarou que a resposta à polêmica criada pelos médicos brasileiros quanto à vinda de estrangeiros será dada com trabalho. “Tenho seguido atentamente a imprensa acerca desse assunto, penso que eles têm razão para isso, mas tenho certeza que eles vão mudar de opinião quando nos virem trabalhar” diz ela que tem como motivação pessoal ao vir ao Brasil o desafio profissional.

O brasileiro Márcio Moura, de 37 anos, pediatra, que mora há 20 anos na Europa, formado na Espanha e trabalhando em Portugal, disse que se inscreveu no programa pela oportunidade de voltar ao Brasil. Ele vai para Pirenópolis, em Goiás. “Nós queremos voltar porque são mais de 20 anos na Europa, somos especialistas, nossa família é toda daqui, chega uma hora que dinheiro não é tudo. Nós já temos dinheiro, agora vamos trabalhar em prol da nossa comunidade, dar a nossa contribuição. A vida não é só dinheiro e os colegas brasileiros não precisam ficar preocupados, somos todos competentes, nós não temos medo do Revalida”.

Robson Carmo, também formado na Espanha com especialização em Portugal, vai para Sarandi, no Paraná. Segundo ele, a responsabilidade que terá agora será com a população que vai atender. “Eu e meus colegas temos formação e sabemos o que fazemos. A nossa responsabilidade, com todo o respeito aos colegas, não é com os colegas, não vou tratar a eles. Sou brasileiro e, em 20 anos, nunca tratei um brasileiro, é um sonho pessoal, já não é questão econômica, eu poder tratar a minha população, é essa gente que pode me questionar se eu não fizer um bom trabalho”.

Natural de Mineiros, em Goiás, Jeslei Teodoro também trabalhava em Portugal e vai ficar em Bela Vista de Goiás. Para ele, a infraestrutura que vai encontrar não será problema. “Nós sabemos a realidade do país que trabalhamos e também a realidade daqui. Essa questão da infraestrutura, os postos de saúde da minha cidade, Mineiros, que tem 80 mil habitantes, estão muito bem equipados, melhor do que muitos postos da Europa”, disse. Jeslei voltou da Europa com toda a família, depois de 20 anos, e reitera que não há necessidade de haver divergência com os colegas que atuam no Brasil.

O secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha, recebeu os estrangeiros no Rio e disse que o dia era histórico e deve ser celebrado, pois o país começa a incorporar ao sistema de saúde 1.340 médicos, sendo 244 deles formados no exterior. “Todos eles têm um currículo excelente para exercer a atenção primária, para incorporar com a gente nesse processo, e eu acho que é um dia de saudação, de celebração e de felicidade para o sistema de saúde brasileiro”.

Revalida
Dos 1.772 médicos formados no exterior inscritos para participar do Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos (Revalida), 148 optaram por fazer as provas da primeira fase em Brasília (DF). A aprovação no exame é obrigatória para profissionais que se formaram em outros países e querem trabalhar no Brasil.

Aplicado desde 2011, este ano o Revalida atraiu maior atenção devido à polêmica surgida com a iniciativa do governo federal de autorizar profissionais de outros países a atuarem em regiões onde faltam médicos na rede pública de saúde sem se submeterem à prova.

Os médicos estrangeiros selecionados para atuar no Programa Mais Médicos, que serão treinados e avaliados no Rio de Janeiro, não precisarão passar pelo Revalida, eles terão um registro provisório para trabalhar por três anos no Brasil, exclusivamente no local selecionado no programa.

O primeiro voo chegou ao Aeroporto Internacional do Galeão/Antônio Carlos Jobim, trazendo dois médicos que atuavam na Rússia e 11 em Portugal. Desembarcaram também um argentino e dois brasileiros que trabalhavam no país vizinho, seguido de voos da Espanha, do Uruguai e da Itália.

Durante três semanas, os médicos terão aulas sobre o programa de saúde pública brasileiro e de língua portuguesa. Serão aulas expositivas, oficinas, visitas técnicas ao serviço de saúde e simulações de consultas e casos complexos. Todos os inscritos receberão noções de português. As aulas incluem legislação, funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS), com enfoque na atenção básica, doenças prevalentes no país e aspectos éticos da profissão. Os médicos que atuarão em áreas indígenas terão aulas complementares.

Ao todo, 145 estrangeiros confirmaram a participação no Programa Mais Médicos, além de 99 brasileiros formados no exterior, que também passarão pelo módulo de avaliação. Os custos com alojamento, alimentação e transporte serão pagos pelo governo federal. O treinamento ocorre em Porto Alegre, São Paulo, no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, Brasília, Salvador, no Recife e em Fortaleza.

Os médicos começarão a atuar nos municípios no dia 16 de setembro. Eles terão bolsa de R$ 10 mil paga pelo governo federal. As prefeituras ficarão responsáveis pela alimentação e moradia e universidades federais e secretarias estaduais e municipais de saúde farão a supervisão do trabalho.

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