Mundo Lusíada
Com Lusa
A Câmara de Torres Vedras pretende avançar com uma candidatura do carnaval a patrimônio imaterial da humanidade da Unesco por manter há pelo menos 90 anos tradições únicas do Entrudo português, segundo o presidente da câmara. “Uma candidatura é algo que estamos a ponderar muito bem pelas características únicas do nosso carnaval, que tem quase um século”, afirmou à agência Lusa Carlos Miguel.
O autarca destacou a participação “espontânea e contagiante” dos milhares de mascarados que se juntam todos os anos aos festejos e “a sátira política e social aguçada” como fatores que diferenciam o carnaval de Torres Vedras de outros carnavais existentes no país.
Desde há quase um século que os mascarados de Torres Vedras seguem a atualidade política e social e este ano não faltaram novos papas indigitados e até matrafonas “Gabrielas”, numa alusão à novela brasileira que voltou a passar nos canais nacionais.
Em cima dos carros alegóricos, o ex-primeiro-ministro José Sócrates e o ministro dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, entram burros na máquina da reciclagem – o tema do carnaval desde ano – e saem doutores, de canudo na mão.
Merkel surge em cima de um enorme dragão a dominar toda a Europa, enquanto um monstro dos mercados, criado na sequência da intervenção da ‘troika’, devora os Zés Povinhos sob o olhar do primeiro-ministro, do ministro das Finanças, do ministro dos Negócios Estrangeiros e do Presidente da República, que retêm o dinheiro dos seus impostos.
Numa roleta russa, os primeiros-ministros, desde Mário Soares a Passos Coelho abusam do Zé Povinho que, desmoralizado com o seu país, segue dentro do autocarro da emigração num outro carro alegórico.
Torres Vedras – Nem o fim da tolerância de ponto, o frio ou a chuva afastaram os visitantes do carnaval de Torres Vedras. O Carnaval de Torres Vedras gera receitas na economia local de cerca de 3,5 milhões de euros e foi visitado este ano por cerca de 350 mil pessoas. A acompanhar a crise, o orçamento do carnaval teve este ano um corte de 17%, passando para os 350 mil euros e brigando a organização a adotar o tema da reciclagem, que se traduziu no reaproveitamento de carros alegóricos e de bonecos de anos anteriores, como o de Mário Soares, com 20 anos.
Funchal – Centenas de foliões marcaram presença no tradicional cortejo Trapalhão, na cidade do Funchal, onde também desfilaram a “troika”, a austeridade ou o desemprego. O cortejo Trapalhão, onde miúdos e graúdos dão largas à imaginação e o humor e a sátira são uma constante, é para Alberto João Jardim o Carnaval que “sai da alma do povo”. E às críticas da dívida, o chefe do executivo insular respondeu: “É verdade. Tenho dívidas, se não houvesse dívidas ele se calhar não tinha estrada ao pé da casa”.
Ovar – Milhares de pessoas assistiram ao Grande Corso do Carnaval de Ovar, tendo a frente Manuel Alves de Oliveira, presidente da Câmara de Ovar, que assume a organização do evento depois de extinta a Fundação do Carnaval local. Cerca de 80.000 foliões terão de segunda para terça festejado o Carnaval no centro da cidade.
Amarante – Um grupo de residentes em Amarante recriou, no carnaval, a corrida dos compadres ou macaca, uma tradição perdida há meio século, mas que era muito apreciada por casais de namorados. Os bonecos, nas formas de homem e mulher, representavam, simbolicamente, um casal desavindo que aproveitava o carnaval para esgrimir argumentos ou reconciliar-se. Diz-se, por Amarante, que muitos casamentos, hoje maduros, surgiram com as brincadeiras carnavalescas da macaca. Os bonecos vão ser leiloados, e as receitas revertam a favor da Associação Desportiva de Amarante.
Loulé – Humor e um aguçado espírito crítico sobre a atualidade nacional e internacional marcaram o segundo dia do programa do Carnaval de Loulé, para o qual a organização esperou mais de 40 mil visitantes. “Entroikados – a Grande Palhaçada” é o tema desta edição, que conta com 17 carros alegóricos criados e forrados com cerca de 500 mil flores de papel nos últimos três meses. Os tripulantes dos carros receberam 2,5 toneladas de confetes e 350 mil rolos de serpentinas que animam e dão colorido à principal avenida da cidade. A animação está a cargo de cerca de 450 pessoas, na sua maioria membros de clubes e associações do concelho, para as quais revertem as receitas do corso do Carnaval de Loulé.
Sesimbra – Cerca de 3.000 palhaços animaram o Carnaval de Sesimbra dando cor a uma tradição iniciada há oito anos e que atrai milhares de pessoas da região e de outros pontos do país. A câmara municipal, de maioria CDU, que dá tolerância de ponto aos funcionários na terça-feira, distribuiu mais de 3.500 balões que se juntaram ao Carnaval de Sesimbra, de acordo com a autarquia.
São Miguel – Enquanto muitos portugueses saem à rua para festejar o Carnaval, na ilha açoriana de São Miguel centenas de pessoas reúnem-se em bailes, sobretudo no Coliseu Micaelense, e dançam noite dentro em traje de gala. A tradição manda também que se levem cestas com comida e bebida, por vezes enfeitadas, para ‘aguentar’ a noite. A música é sobretudo brasileira, mas a pista é aberta com a valsa e o repertório inclui êxitos pop e rock.
Os primeiros bailes do coliseu, em Ponta Delgada, foram realizados em 1921, numa época em que os eventos deste gênero decorriam em espaços como o Governo Civil ou o Club Micaelense, apenas com convidados ou sócios. Quase um século depois dos primeiros bailes – que ao longo dos anos chegaram a ser três, entre as noites de sexta-feira e segunda-feira de Carnaval -, o espaço recebe, em cada festa, até 2.300 pessoas.
Leiria – A população de Loureira, Leiria, substituiu na terça-feira os festejos de Carnaval por trabalho comunitário, juntando-se para requalificar um caminho público, disse à agência Lusa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Catarina da Serra. “É uma tradição que junta quase uma centena de pessoas que, graciosamente, com tratores e enxadas abrem ou recuperam caminhos públicos, sobretudo rurais, em prol da comunidade”, sublinha Joaquim Pinheiro. Esteve previsto trabalhos no caminho do Casal da Cabeça, no lugar de Loureira, numa extensão que ronda os cinco quilômetros, com os habitantes apoiados por tratores e munidos de enxadas e serrotes.
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