Por Ígor Lopes
Mundo Lusíada
Os eventos só começam em setembro, mas a movimentação já é grande. Com a proximidade do início do ano de Portugal no Brasil e do Brasil em Portugal, ficam evidentes as necessidades de cada nação. O Brasil, em franco crescimento, decidiu apostar nas mostras culturais. Já, Portugal, que não vive um dos seus melhores momentos, quer fazer de tudo para mostrar aos brasileiros as suas potencialidades econômicas e comerciais. As intenções dos dois países foram levadas a público no dia 17 de julho. A programação oficial do evento foi revelada na residência oficial do cônsul-geral de Portugal, Nuno Bello, no Rio de Janeiro. A festa começa dia 7 de setembro deste ano e vai terminar em 10 de junho de 2013. Em jogo estarão eventos que contemplam a música, teatro, artes e literatura de Portugal e Brasil.
Dois países e duas propostas bem diferentes
O Ano de Portugal no Brasil e do Brasil em Portugal marca bem a diferença estratégica da cada país, no tocante às relações exteriores. O Brasil vai apostar forte na promoção da sua cultura, enquanto que Portugal quer dar ênfase à economia. Nas palavras do comissário-geral do ano de Portugal no Brasil, Miguel Horta e Costa, existem diferenças na programação dos dois países, “até pela natureza de cada comissário, que no nosso caso do Brasil é dirigido por uma pessoa ligada às artes e, no de Portugal, por uma pessoa com mais experiência na área econômica”. No Rio, a cerimônia contou com a presença de grandes artistas brasileiros, como Bibi Ferreira e Marília Pêra, que se apresentarão em Portugal ao longo dos 11 meses de programação cultural. A cantora Elba Ramalho também marcou presença, além da ministra da Cultura do Brasil, Ana de Hollanda.
Começo de perder o fôlego
Logo de cara, Ney Matogrosso, Martinho da Vila, Zeca Baleiro, Zé Ricardo, Paulo Gonzo, Carminho e Boss AC serão alguns dos nomes que vão abrir oficialmente o evento entre os dias 21 e 23 de setembro no Terreiro do Paço, em Lisboa. O objetivo dessa festa bilateral, com duração de quase um ano, é promover encontros que mostrem a criatividade e a diversidade do pensamento, das manifestações artísticas e culturais de Portugal e Brasil, além de intensificar o intercâmbio científico e tecnológico e estreitar as relações econômicas entre os dois países irmãos. No fundo, o Brasil continua apostando nas relações econômicas em Portugal com o intuito de aceder ao mercado europeu. Do seu lado, Portugal vê no Brasil uma mina de ouro na vertente econômica e comercial, sem esquecer o tamanho do mercado da América do Sul. Ao Mundo Lusíada, o embaixador de Portugal em Brasília, Francisco Ribeiro Telles, adiantou que um dos focos do governo português é “levar ao Brasil um Portugal até aqui desconhecido, com enfoque na modernidade e na inovação – mostrando criatividade, tecnologia, competências e conhecimento, através de uma operação estruturada de cooperação entre entidades e agentes públicos e privados, dos dois países. Trata-se de atualizar a imagem de Portugal no Brasil, projetando um Portugal virado para o futuro, sem esquecer o seu vasto patrimônio histórico e cultural”.
Portugal vai ver um Brasil diversificado
Um dos aspectos realçados pelo governo brasileiro foi a gratuidade de grande parte dos eventos culturais que vão acontecer em Portugal. “Todos os eventos em espaços abertos serão gratuitos. Aqueles em espaços fechados, vamos oferecer um preço popular, bem abaixo do cobrado no mercado”, afirmou Antônio Grassi, comissário-geral do Ano do Brasil em Portugal. Nessa lista de eventos em espaços abertos estão previstas apresentações de teatro de rua, shows de músicos brasileiros contemporâneos, além de festas populares que vão valorizar o carnaval e a festa junina. No que toca o teatro, Portugal vai ver peças com elenco de primeira linha, com a atuação de Bibi Ferreira e Marília Pêra. Nesses casos, os bilhetes deverão ser vendidos por cerca de 10 euros. O desafio para os dois países será grande. Portugal terá que deslocar as suas apresentações para fora do eixo Rio-São Paulo, já o Brasil terá muito trabalho pela frente para levar toda a sua diversidade cultural para o outro lado do oceano. Alguns eventos prometem muito êxito, como uma exposição de Oiticica, no Museu Berardo, ou uma exposição de design brasileiro, no Museu do Design e da Moda, em Lisboa. A abertura de um “Espaço Brasil”, na LX Factory, em Lisboa, é um dos projetos que está sendo levado a cabo. Em Portugal, além de Lisboa, o evento vai passar pelas cidades do Porto, Guimarães, Coimbra, Sintra e Faro.
Programação lusa ainda é segredo
Os portugueses irão promover dezenas de iniciativas no Brasil, mas elas ainda não foram divulgadas. Uma das apostas, no entanto, é no esporte. “Apesar da modesta contribuição cultural, a grande aposta da comissão portuguesa é uma partida de futebol entre as seleções dos dois países, sem data confirmada, mas que deve ocorrer em 2013”. Na vertente cultural, está confirmada, apenas, a apresentação da fadista Mariza, em Brasília, Minas Gerais, e no Rio, em setembro. “A crise abre oportunidades. Vamos trazer pequenas e médias empresas para o Brasil, que é uma potência. O governo entra só com o apoio institucional”, disse Miguel Horta e Costa, que garantiu que o Brasil terá a visita de chefes de cozinha portugueses, algumas mostras de artes e a publicação de obras de dez novos autores da literatura lusa.
Investimento público e privado
O investimento do governo brasileiro gira em torno de 14 milhões de Reais. Já Portugal prefere apostar no apoio da iniciativa privada. “O orçamento deste ano prevê investimentos de sete milhões de reais. A expectativa é de que para 2013 seja similar ao que foi esse ano, chegando ao todo a 14 milhões de reais”, afirmou Antônio Grassi. No que toca ao Brasil, os investimentos serão realizados pelo Ministério da Cultura e das Relações Exteriores. Outros projetos poderão receber incentivos da lei federal de incentivo à cultura. Por sua vez, Miguel Horta e Costa afirmou que ainda não há previsão orçamental final para o evento. O que se sabe, no entanto, é que as atividades lusas serão patrocinadas, na sua totalidade, pela iniciativa privada portuguesa. “Não há propriamente um orçamento porque a metodologia utilizada para o Ano de Portugal no Brasil é com base em patrocínios, portanto, no casamento dos projetos que nos aparecem de várias vias, com os patrocinadores, que são empresas”, explicou Horta e Costa, que não mencionou o valor reunido até o momento.
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