Por Thais Matarazzo
Em 1933 esteve entre nós a vedeta e atriz portuguesa Dina Teresa (1902-1984), protagonista do filme “A Severa”, baseado na obra homônima do escritor Júlio Dantas, e dirigido por Leitão de Barros dois anos antes. Este longa-metragem fez tanto sucesso na terra de Camões como em outros países de língua portuguesa que Dina conheceu seu momento de glória na cinematografia, foi alcunhada de “A eterna Severa”, e assim foi até o fim de sua vida. Aonde se apresentava tinha que interpretar “Novo Fado da Severa” (Frederico de Freitas / Júlio Dantas).
Quando desceu do navio que a trouxe de Portugal ao Rio de Janeiro foi ovacionada pelos seus patrícios, a artista não esperava tamanha recepção. Permaneceu alguns meses entre nós e foi alvo de diversas homenagens, entre elas a do proprietário (um português) da Confeitaria Cavé, na “Cidade Maravilhosa”. Para comemorar a passagem da artista lusa pelo Rio ele criou um novo sorvete: o sorvete Dina Teresa!
O tempo passou, porém, para a surpresa e curiosidade de muitos, o “Sorvete Dina Teresa” permanece no cardápio da Cavé. Embora, atualmente, quase ninguém saiba explicar o porquê do nome deste sorvete… Ele é servido em uma generosa taça de cristal com sorvete sabor creme, com chantilly azedinho e fios de ovos. Vale a pena experimentar!
A Confeitaria Cavé foi fundada por Auguste Charles Auguste Cavé, um imigrante francês, em 1860, é a confeitaria mais antiga da cidade, mantendo ainda, em nossos dias, aspectos do Rio Antigo. O fundador ficou à frente do negócio até 1922, em seguida, passou por diversos proprietários.
Nos áureos tempos não havia um transeunte que passasse pelas esquinas da Rua 7 de Setembro com Uruguaiana e não se encantasse com a bela arquitetura do prédio da Cavé (de estilo eclético) e observasse as límpidas vitrines ornamentadas com taças de sorvetes enfeitadas com formas tão variadas como galinhas, pirâmides ou cestas de pêssegos. O local era frequentado pela alta sociedade carioca, políticos, jornalistas e intelectuais.
Hoje, a Cavé teve seu endereço alterado para a Rua 7 de Setembro, 133. As guloseimas portuguesas podem ser saboreadas neste endereço tradicional. Existe uma saleta interna decorada com mesas, cadeiras, grandes espelhos nas paredes, no teto uma linda claraboia de vidros coloridos, toda a decoração foi mantida como a original e nos remete aos primeiros anos do século XX.
Por Thais Matarazzo
Jornalista, escritora e pesquisadora musical. Autora do livro “Irene Coelho, uma brasileira de coração português”. Membro da UBE – União Brasileiro de Escritores. E colunista do Mundo Lusíada Online
3 comentários em “Fado no Brasil: O sorvete Dina Teresa, um tributo à atriz portuguesa”
Thais!
Que maravilha!
Bom saber que a Cavé ainda mantem o sorvete Dina Tereza.
Eu estive lá em 2008 e me deliciei com tortas e a bela decoração. Foi em uma tarde, antes de ir visitar a família da Pepa Delgado.
Mais “viagem histórica” impossível!
Abraços
Maravilhosa matéria. Tenho raízes (profundas),portuguesas(materna e paterna), apreciando deveras, e “loucamente”, a culinária portuguesa. No entanto, nunca provei do sorvete Dina Tereza. Obrigada, pela partilha. Um abraço.
Esse sorvete é inesquecível!!!!!