Fado no Brasil: Éster de Abreu

Por Thais Matarazzo

A bela Éster de Abreu nasceu em Lisboa, em 25/10/1921. Filha de Manuel H. de Abreu Pereira  e Isabel C. de Almeida. Seu verdadeiro nome era Éster de Abreu Pereira. Teve mais três irmãos: Manuel, Julieta (mais tarde se tornaria vedeta do Teatro de Revista luso) e Hermenegilda, a futura cantora Gilda Valença.

Iniciou a carreira cantando em programas radiofônicos dedicados ao público infantil, mas a família não queria vê-la artista e sim casada. Dois anos depois mudou seu estado civil, em 1936. A artista deixou o Rádio.

Mas a música e a arte continuavam a pulsar em suas veias, mesmo contra a vontade do marido resolveu tentar a sorte no rádio novamente em 1940, naquele momento, a Emissora Nacional de Lisboa instituiu um concurso para escolher uma nova cantora que soubesse cantar em cinco idiomas. Nem é preciso afirmar que a bonita cachopa venceu o certame.

Separou-se do esposo, passou a se apresentar apenas em locais vizinhos a Lisboa, não queria ficar muito tempo longe de sua filhinha Maria Manuela. Mais tarde, chegou a visitar outros países da Europa e percorreu as colônias portuguesas na África.

Em 1948, sua irmã Julieta Valença – que há muito tempo residia no Rio de Janeiro -, sabedora da situação de sua mana lhe enviou uma carta onde garantia um contrato no Brasil, Éster não vacilou. Viajou com sua filha e deixou que Deus decidisse seu destino. Elas desembarcaram no Rio de Janeiro em abril/1949.

Assinou um contrato com a boate do Copacabana Palace por um mês, estreou na revista musical “Sonho nas Berlengas”, de Caribé da Rocha. Éster cantava fados e canções da sua terra em um quadro somente seu, o sucesso destacado foi de agrado tamanho que o contratou dilatou-se por três meses. Julieta foi muito tenaz, procurava novas chances para a irmã, e foi assim que acertou um contrato com a Rádio Nacional por 12 meses. Logo, Éster era chamada pela imprensa carioca de “a mais linda portuguesa”.

A estrela lusa foi cercada de muito boa sorte, permaneceu no cast da Nacional até meados da década de 1960, sempre com muito sucesso. Foi a cantora portuguesa mais famosa no Brasil. Acabou se naturalizando brasileira.

Percorreu todo o território nacional em excursões artísticas. Em 1950 estreou em discos gravando na Continental o fado canção “Já não sei” (António Mestre) e o fado “Pomar da vida” (Renê Bittencourt / António Mestre). Todavia, seu maior êxito foi o fado-canção “Coimbra” (Raul Ferrão / José Galhardo), esta gravação bateu recordes de vendagem em 1952. Anteriormente, em 1948, esta música já havia sido apresentada para os ouvintes brasileiros pelo fadista e ator Alberto Ribeiro, porém, foi na voz de Éster que ele ganhou todo o Brasil.

No Reveillon de 1952 houve uma festa particular promovida pelo Presidente Getúlio Vargas no Palácio do Catete, no Rio. Éster e outros colegas da Rádio Nacional foram convidados para realizar uma pequena apresentação. Naquela noite, Vargas a apresentou ao prefeito do Distrito Federal, o coronel Dulcídio do Espírito Santo Cardoso, viúvo e decidido a casar novamente. E assim nasceu um romance entre ambos, que mereceu fortes reportagens da imprensa, mas o novo matrimônio não se realizou. Em 1956 já tinham se separado. Talvez, este evento tenha prejudicado um pouco a carreira de Éster.

Além de fados, Éster gravou baiões, samba-canções e músicas brasileiras, como as marchas carnavalescas “Cabral no carnaval” (Blecaute) e “Ou vai ou racha” (Luis Antônio / José Batista), ambas de 1953. Éster de Abreu participou dos filmes: “Vamos com calma” (1956), “Piratas do outro mundo” (1957), “Como evitar o desquite” (1973) e “As aventuras de um detetive português” (1976).

Por volta da década de 1965 afastou-se das atividades artísticas, era o fim da “Era de Ouro do Rádio”. A intérprete continuou cantando para as platéias dos clubes e sociedades luso-brasileiras. E dedicava boa parte de seu tempo a obras sociais, participando em espetáculos beneficentes.

Sempre viveu em companhia da sua filha Maria Manuela, advogada, escultora e pintora, em um amplo apartamento na Praia de Botafogo, no Rio. Em 1995, a estrela lusa ficou muito doente, veio a falecer na “Cidade Maravilhosa” aos 24/2/1997.

 

Por Thais Matarazzo

Jornalista, escritora e pesquisadora musical. Autora do livro “Irene Coelho, uma brasileira de coração português”. Membro da UBE – União Brasileiro de Escritores. E colunista do Mundo Lusíada Online

10 comentários em “Fado no Brasil: Éster de Abreu”

  1. Maria Fernanda Pereira

    Agradeço terem falado tão bem da minha família, sim porque estas senhoras são minhas tias irmãs do meu Pai Manuel Pereira, também já falecido. Fico imensamente agradecida. Já agora queria pedir um favor. Será possível saber por vosso intermédio o que é feito da minha prima Manuela Rodrigues, porque perdi o contacto dela?
    Os meus respeitosos cumprimentos.
    Maria Fernanda

    1. thais Matarazzo

      D. Maria Fernanda, a Manuela faleceu há alguns anos no Rio de Janeiro. Tem uma sra. ! D. ANTONIA DE MORAIS, que está escrevendo a biografia da Ester de Abreu.um Abraço.

  2. Sra. Maria Fernanda,
    A Manuela Rodrigues faleceu há alguns anos no Rio de Janeiro. Existe uma senhora, D. Antonio de Moraes, que está pesquisando a vida e obra de Ester de Abreu, talvez ela possa dar maiores informações a sra.

  3. Antônia Lucia de morais

    Bom dia.
    Sou Antônia Lucia, fã e pesquisadora da vida e obra de Ester De Abreu, com o objetivo de publicar um livro histórico e biográfico da cantora.Linda a matéria da escritora e jornalista Thais Matarazzo para homenagear este ( ícone) da musica portuguesa e brasileira da ERA DE OURO DO RÁDIO BRASILEIRO, que foi um elo de amor de respeito e amizade entre os dois países irmãos.
    Apenas uma ressalva: Segundo depoimento de Maria Manuela falecida em Julho de 2010 filha de Ester de Abreu,a artista nasceu em 25 de Outubro de 1923 e voltou para a Emissora Nacional de Lisboa em 1943.
    Gostaria de entrar em contato com a senhora Maria Fernanda Pereira filha do primeiro irmão de Ester de Abreu que publicou nesta página um texto a respeito das lembranças que ela tem das tias Ester e Gilda e também da prima Maria Manuela para maiores esclarecimentos.
    Agradecimentos de Antônia Lúcia de Morais

  4. Antônia Lucia de morais

    Fiquei sensibilizada e muito emocionada com o texto publicado pela senhora Maria Fernanda Pereira que faz parte da historia da cantora Ester de Abreu.

    Antônia Lucia de Morais.

  5. Maria Fernanda Pereira

    Exmª. Senhora D. Antónia Lúcia, Eu sou a sobrinha de Ester de Abreu, Gilda Valença e Julieta Pereira, e estarei ao seu dispor para qualquer esclarecimento.
    Respeitosos cumprimentos.
    Maria Fernanda

    1. Antônia Lucia de morais

      Bom dia Srª maria Fernanda
      Sou Antônia Lucia de Morais.
      A algum tempo enviei o e-mail falando do projeto do meu livro sobre a vida de Ester de Abreu e ainda não obtive resposta.
      tive a informação que a escritora Taís Matarazzo irá a Portugal e tem um grande desejo de conhecela e entrevista-la para que meu livro da grande cantora Ester de Abreu fique com maior riqueza de detalhes.
      Meu E-mail pessoal é ([email protected])
      Aguardo ansiosamente pelo vosso retorno.

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