Brasileiro recebe prêmio da Unesco em Paris

Khoury e Vargens foram escolhidos por fomentar a conscientização da cultura árabe no mundo. No caso de Vargens, ligando países de cultura portuguesa – Brasil e Portugal – com países árabes.

Da Redação
Com Rádio ONU

O editor brasileiro João Baptista de Medeiros Vargens recebeu em 27 de fevereiro o prêmio Sharjah para a Cultura Árabe. A cerimônia foi realizada na sede da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura em Paris. Vargens dividiu o prêmio com o autor libanês Elias Khoury. Os vencedores recebem US$ 30 mil.

Depois de participar de uma mesa redonda falando sobre a integração do imigrante árabe na sociedade brasileira, Vargens agradeceu o prêmio que, para ele, homenagea um grupo de arabistas brasileiros, em especial os professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

 

Prêmio

Vargens disse que embora não seja árabe é abu-Tariq, ou o pai de Tariq, como o poema famoso do palestino Mahmoud Darwish, porque tem um filho brasileiro chamado Omar Tariq que foi concebido em Damasco. O vencedor do prêmio terminou seu discurso às  cerca de 700 pessoas presentes no auditório da sede da Unesco, dizendo “viva a pátria palestina”.

O prêmio da Unesco Sharjah para a Cultura Árabe foi criado há dez anos por uma iniciativa dos Emirados Árabes para reconhecer os esforços de uma pessoa nascida num país árabe e de outra de qualquer outro país que tenham contribuído, através de seus trabalhos artísticos, intelectuais ou promocionais, para o desenvolvimento e difusão da cultura árabe no mundo. Os vencedores do prêmio receberam US$ 30 mil, o equivalente a mais de R$ 50 mil.

 

Cultura Árabe

Khoury e Vargens foram escolhidos por fomentar a conscientização da cultura árabe no mundo. No caso de Vargens, ligando países de cultura portuguesa – Brasil e Portugal – com países árabes. Ele abriu, por exemplo, um curso de português na Universidade de Damasco. Vargens ensinou português, literatura brasileira e cultura brasileira numa universidade no norte do Marrocos e foi responsável por uma coluna chamada Opinião Semanal no jornal marroquino L’Opinion.

O brasileiro publicou ainda o livro “Léxico Português de Origem Árabe, Subsídios para os estudos de filologia”, resultado de uma tese de doutorado defendida em Lisboa. Ele é também autor dos verbetes das palavras de origem árabe no dicionário Aurélio Buarque de Holanda.

“São cerca de três mil palavras. Muitas delas são usadas por nós, no nosso dia-a-dia,  como café, açúcar, alface”, explica. “Outras são menos usadas como o acepipe. O interessante é que houve uma mudança de sentido. A palavra árabe é alzabib que significa passas, a uva seca. Quando entra para o português, muda de sentido e passa a significar uma iguaria sofisticada servida em coquetéis na alta sociedade.”

Vargens lembra que os árabes ficaram durante oito séculos na península ibérica convivendo com os povos que lá viviam. Mais recentemente, pela imigração sírio-libanesa no Brasil, entram outras tantas palavras. Ele estima que hoje no Brasil haja cerca de 12 milhões de sírios, libaneses, palestinos e descendentes.

Muitos dos sírio-libaneses que migraram para o Brasil se estabeleceram no centro-oeste como caxeiros-viajantes e foram responsáveis pela difusão de informação das grandes cidades a pequenos vilarejos.

“Essa necessidade de comunicação foi certamente um pilar para que essa integração se desse rapidamente’, diz. “Isso de certa forma até atrapalhou um pouco no que concerne a conservação dos hábitos e da cultura árabe no Brasil e em outros países de imigração árabe. A necessidade de dar a vida e lutar pela vida fez com que muitos pais não ensinassem o árabe a língua para seus filhos.”

No Brasil há dois centros oficiais de línguas em universidades que graduam professores de português e árabe: a Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Universidade do Estado de São Paulo.

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