Mulheres Portuguesas na Diáspora: Os Fados de Todas Nós

O projeto Mulher Migrante tem tido sucesso na internet. A ex-deputada Manuela Aguiar é uma das mais destacadas divulgadoras desse Encontro que na sua próxima edição e, no âmbito do Ano de Portugal no Brasil, poderá acontecer em São Paulo.

 

Por Eulália Moreno

Elas estão presentes em todos os segmentos sociais nos quatro cantos do mundo. Trabalhadoras no comércio, indústria e agricultura, em serviços domésticos ou como profissionais liberais. Contudo é nas suas relações associativas, em trabalhos desenvolvidos junto às suas comunidades nos países de adoção, que as mulheres portuguesas exercem a sua cidadania e dão o seu contributo na preservação e divulgação da cultura de Portugal.
Nas secretarias das nossas Associações, à frente de microfones em programas de rádio e de televisão, nas redações dos jornais e revistas, artistas plásticas, folcloristas, ensaiadoras, poetas, instrumentistas, cantadeiras e bailadeiras. Nos palcos da vida, cantoras de Fado sempre a nos relembrar que algumas feridas cicatrizaram enquanto outras sangrarão até o fim dos nossos dias.
Ao lado dos maridos, filhos, companheiros ou amigos originários das mesmas aldeias, dando a sua incalculável contribuição promovendo ações de solidariedade ou como maestrinas nas “orquestras das panelas” responsáveis pela excelente gastronomia que é oferecida não apenas aos “patrícios” mas a todos que acorrerem aos concorridos almoços, jantares, “adegas” e “tascas”. E até mesmo as bancadas dos estádios de futebol deixaram de ser redutos masculinos já que elas ali comparecem com cachecóis nas cores da bandeira portuguesa.
São elas, as Mulheres Portuguesas na Diáspora que esperaram durante alguns séculos enquanto os seus Homens partiram em busca de melhores condições para as suas famílias mas que em princípios do século XX começaram elas também a partir.
A Associação Mulher Migrante, presidida por Rita Gomes, organizou entre os dias 25 e 26 de Novembro de 2011, na cidade da Maia o Encontro da Mulher Migrante com a participação de estudiosos da temática do gênero ligada à emigração portuguesa. Os trabalhados apresentados estão disponíveis na Internet em mulhermigranteem congresso. blogspot.com. Manuela Aguiar, ex-deputada e secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, hoje vereadora do pelouro da Cultura na Câmara de Espinho é uma das mais destacadas divulgadoras desse Encontro que na sua próxima edição e, no âmbito do Ano de Portugal no Brasil que se inicia no próximo dia 10 de Junho, poderá acontecer em São Paulo.
Na maior rede social da Internet, o Facebook, foi criado um grupo “Mulheres Portuguesas na Diáspora” (www.facebook.com/groups/320001374688278) que se tornou um ponto de referência para relatos muito ricos de histórias de vida e que poderão ser lidos, na íntegra, em http://tertuliadadiaspora.blogspot.com/2012/01/eulalia-moreno.html. Algumas identificadas por vontade das suas autores, outras no anonimato.
“Me enamorei do filho do dono das terras onde os meus pais trabalhavam , e mal tive o meu filho deixei-o aos cuidados de familiares e vim tentar a sorte no Brasil onde moravam uns tios que me mandaram a carta de chamada. Vim trabalhar como babá, aqui as pessoas ricas gostavam muito de portuguesas para olharem pelos filhos. Sofri muito porque estava eu a criar filhos dos outros enquanto o meu , pobrezinho, sabe-se lá se tinha o que comer, o que vestir e o que calçar(…) Nunca retornei a Portugal e o Brasil a quem dei o meu suor e as minhas lágrimas, ficará também com os meus ossos.”
A.P., 85 anos, natural da Beira Alta, emigrante no Brasil
“Minha história começa quando o meu pai teve que emigrar no ano de 1968 quando eu tinha 7 anos. Para minha mãe não foi fácil ficar em Portugal com 4 filhos e de gerir uma casa de forno onde se vendia o pão alentejano , ter que peneirar amassar o pão e cozer e vender .Para meu pai também não foi nada fácil ter que ir para um país tão distante sem saber falar a língua. Ele sequer sabia ler e escrever ..Embarcou em Santa Apolonia com destino a Alemanha pois iria trabalhar para o porto de Hamburgo (…) Depois de estar estável mandou a minha mãe e uma irmã ir. Isso aconteceu em 1973 Eu e os meus outros dois irmãos ficamos com os avós maternos , pois nós ainda andávamos na escola(…)A partir daí a minha vida mudou totalmente de criança para mulher (…) minha mãe levava-me com ela para o trabalho !!Ela ia fazer limpeza num hospital onde eu lhe ajudava , comecei eu a fazer tudo o que me vinha de trabalhos dos mais variados , em limpeza, trabalhei a fazer pizzas a cortar cebolas para fazer a carne no espeto, numa lavanderia a passar a ferro.(…) Em 1978 conheci meu marido começamos a nossa vida de casados trabalhando e economizando para fazer uma casinha em Portugal pois é o sonho de todos os portugueses um dia voltarem a sua terra natal(…)
Silvia Messias, 51 anos, natural de Beja, emigrante na Alemanha
“No dia 21 de novembro de 2007 vi me forçada a abandonar o meu país! Mas mais doloroso abandonar os meus preciosos: a minha menina tinha 5 aninhos e o meu menino tinha simplesmente 3 mesitos, mas para poder lutar por uma vida melhor para eles decidi vir para Inglaterra….As pessoas que me trouxeram só arranjaram trabalho para mim e não para o meu marido. Foi tão doloroso para todos nós….todos os dias ouvia crianças a chamar pelos pais e as minhas lágrimas simplesmente corriam cara abaixo de tanta dor e saudade…ao fim de um tempo consegui trazer o meu marido mas mais uma vez tive de deixar os meus bebes para trás (pois as pessoas com quem eu morava não queriam que os trouxesse) e então aí foram 4 meses sem os ver….Cada dia que passava tornava se mais impossível de viver sem eles……Sofri muito mas agora estamos todos juntinhos , graças a Deus!”
Claudia Fernandes, 32, natural de Setubal, emigrante na Inglaterra
“Todas nós sofremos por ter emigrado, não importa para onde. O meu pai emigrou com toda a família para a Argentina e para isso precisou vender uma herança que era da minha mãe, ela nunca o perdoou por isso. Acho que era o nosso destino mas perdemos a nossa identidade porque em Portugal somos emigrantes e onde moramos somos estrangeiras… então qual é o nosso país?? Só por isso já temos um pesadelo que nunca tiramos de cima dos ombros embora digam que as Mulheres vencem muitas batalhas. Mas sofremos muito, muitas vezes em silêncio, só Deus sabe o que sofremos (…)”
N.C., 63 anos, natural de Aveiro, emigrante na Argentina
“Eu emigrei para a Austrália, sem nada, só com a minha roupinha vestida… eu, meu marido e o meu filho de 15 meses ao colo. Viemos com a minha irmã para enfrentar e recomeçar a vida sem saber o que nos esperava.. o não saber a língua foi o problema principal. Deus nos ajudou, hoje já tenho 40 anos como emigrante e já temos 3 netos. Penso que vamos acabar os nossos dias por aqui em Sidney, neste país que nos acolheu de braços abertos.
Lucy Mendonça, 60 anos, natural da Guarda, emigrante na Austrália

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