“75% da alimentação humana se restringe a 12 plantas”. Embrapa discute sistemas alimentares

Da redação

Em alusão ao Dia Mundial da Alimentação (16 de outubro), os três centros de pesquisa da Embrapa no estado do Rio de Janeiro (Agrobiologia, Agroindústria de Alimentos e Solos) promovem no próximo dia 15, na sexta-feira às 10h, uma live “Sistemas Alimentares Sustentáveis: Oportunidades e Desafios”. A transmissão será pelo canal da Embrapa no YouTube.

O moderador do evento será o analista Gustavo Porpino, da Embrapa Alimentos e Territórios (Maceió-AL), reconhecido por seu trabalho no tema desperdício de alimentos.

A palestrante da Embrapa Agrobiologia (Seropédica) será a pesquisadora Mariella Uzêda, que abordará agricultura, conservação e segurança alimentar. “Atualmente, 75% da alimentação humana se restringe a 12 plantas, das quais três são hegemônicas – milho, trigo e arroz. É muita simplificação”, conta a cientista. “Desvalorizamos tanto o conhecimento local que hoje se estabeleceu um rótulo para a comida – comida de pobre e comida de rico. E o que é comida de rico? Carne e os ultraprocessados. É uma inversão muito grande!”, completa.

Já pela Embrapa Solos (Rio de Janeiro), fará a apresentação a também pesquisadora Ana Paula Dias Turetta, que tem projeto aprovado no Edital Rural Sustentável, “Sustentabilidade à mesa: desenvolvendo queijo curado artesanal baixo carbono no Cerrado, com responsabilidade socioambiental e bem estar animal”.

Ana também fez a abertura, no dia 30 de junho, do webinar “Oportunidades de Foodtech no Brasil”, evento organizado pela “Low Carbon Business Action” Brasil, em conjunto com a Embrapa e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

A Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro) terá como convidado o pesquisador Murillo Freire Junior, licenciado em Ciências Agrícolas; Engenheiro Agrônomo; com mestrado e doutorado em Ciência e Tecnologia de Alimentos; Pós Doutorado no CIRAD em Montpellier/França; e representante brasileiro do Comitê de Peritos da FAO-América Latina e Caribe para o tema perdas de alimentos.

Murillo vai discorrer sobre o desperdício de alimentos, com foco no público urbano.

Os assuntos em pauta também foram abordados durante a Conferência de Ministros da Agricultura das Américas 2021, cujo tema foi: “Sistemas Agroalimentares Sustentáveis, Motor do Desenvolvimento das Américas”.

Hábitos e diversidade

A perda da biodiversidade e a relação da humanidade com a comida foram temas abordados pela pesquisadora Mariella Uzêda em seu capítulo no livro Isto não é (apenas) um livro de receitas, lançado em 2019 pelo Instituto Comida do Amanhã em parceria com a Unirio e a Fundação Heinrich Böll Brasil. A obra reúne receitas diversas, com foco na sustentabilidade, no reaproveitamento e no uso de ingredientes incomuns, além de textos escritos por profissionais ligados de uma forma ou de outra à alimentação, como nutricionistas, cozinheiros, biólogos, engenheiros de produção, professores, especialistas em sistemas alimentares urbanos e segurança alimentar.

Mariella também descreve, no Brasil, o processo de importação de uma cultura alimentar exótica, que foge às tradições locais e ao uso de plantas nativas – hoje muitas vezes rebaixadas para a categoria de ‘mato’. “O potencial da biodiversidade local é pouco reconhecido pelas ciências agrárias e florestais, e grande parte do patrimônio cultural das populações locais é pouco valorizado, o que reforça a atribuição de rótulos pejorativos a esses alimentos”, explica. “É necessário repensar todo o sistema agroalimentar, desde a semente até a mesa, para que se possa garantir alimentação de qualidade à população”, acrescenta.

O livro é uma extensão do trabalho já desenvolvido para a produção do relatório Comida, Saúde, Planeta, lançado pela comissão Eat-Lancet, um documento mundial sobre alimentação e problemas alimentares recorrentes atualmente. “Hoje vemos falta de acesso à comida e fome, ao mesmo tempo em que temos altos índices de obesidade e desperdício. A isso tem-se dado o nome de sindemia – e esse relatório fala muito disso e do quanto os sistemas produtivos simplificados acabam contribuindo para isso, uma vez que são atrelados à indústria”, aponta Mariella.

O livro está disponível para download no site aqui.

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