448 Anos de fundação: Um Rio bem português

Por Ígor Lopes

RiodeJaneiro_Portugues

 

A cidade do Rio de Janeiro completou 448 anos de fundação no mês de março. A cidade está celebrando ainda os 205 anos da chegada da Família Real à cidade que nasceu pela iniciativa do português Estácio de Sá. De lá para cá, muita coisa mudou, mas a essência lusitana continua presente a cada esquina.

Em meio a tantas comemorações é fácil entender porque esta cidade é tão amada. A par dos problemas das grandes metrópoles, existem cenários de cinema que emolduram o imaginário carioca. São praias, bairros, parque e outros exemplos que tornam o Rio tão cobiçado. Mas há um detalhe importante que faz com que o Rio de Janeiro seja mais do que especial. Por cá, todos os povos se encontram e isso acontece também com os portugueses, que fazem parte da história desta cidade.

Por aqui, encontramos prédios e exemplos arquitetônicos que se destacam. Todos de influência portuguesa. E para desvendar esses mistérios lusitanos no Rio, o Mundo Lusíada lançou um desafio a duas instituições renomadas. Procuramos saber que locais guardam influências portuguesas, sejam históricas, culturais ou arquitetônicas. O resultado é surpreendente. Para quem caminha por essas ruas, é inevitável perceber que o Rio é bem português.

João Baptista Ferreira de Mello é coordenador do projeto “Roteiros Geográficos do Rio”, promovido pela Universidade Estadual do Rio e Janeiro (UERJ), que realiza caminhadas gratuitas na área central do Rio, de dia e à noite, além de outros locais de interesse da cidade. Os roteiros são ecléticos, mas fica latente que, a cada “cantinho”, uma “obra portuguesa” encanta o público.

“O Centro do Rio de Janeiro é rico em marcas e símbolos da arquitetura portuguesa na urbe carioca. Foi o sítio inicial da cidade. Os sobrados, as igrejas, as ruas lembram Lisboa, ou Porto ou Coimbra”, comenta João de Mello.

Para ele, o ideal para se conhecer Portugal através das belezas do Rio é fazer uma visita a locais marcantes da história das duas sociedades. Em tom de desbravamento, João inicia a sua viagem pelo Rio português através de um encontro na famosa Praça XV, cuja toponímia homenageia a República.

“Trata-se de uma imposição da República. Não podendo destruir marcas e símbolos de outrora, a República coloca a data de sua proclamação para mostrar sua força frente ao passado que procurava ocultar”, afirma João, que recorda que este local “foi o centro político no Rio capital da Colônia, do Reino e do Império”.

Mais adiante, outro destino obrigatório é o Paço Imperial, “que foi casa dos vice-reis e que acolheu a assinatura da Lei Aurea”. O Convento dos Carmelitas, “onde a Rainha Dona Maria I, a Louca, residiu”, não pode ficar de fora dessa viagem no tempo. E se a religião tem uma raiz forte no mundo lusitano, outro ponto de passagem deve ser a Igreja Nossa Senhora do Carmo, que serviu de capela Real.

“Nesta Catedral, aconteceram a Aclamação de Dom João VI, e também as de Pedro I e Pedro II e o batizado da Princesa Isabel”, sublinha João.

Outro local de adoração que deve ser visitado é a Igreja de São Benedito e de Nossa Senhora do Rosário, que “abrigou a Catedral de São Sebastião do Rio de Janeiro e as orações de agradecimento da Família Real, por conta da viagem bem sucedida, em 1808”.

O Chafariz do Mestre Valentim, que se destaca por ser o “cais no qual a Corte Portuguesa ancorou em março de 1808, e o Arco do Teles, que, sendo um casarão, abrigou a Família Teles e, em seguida, recebeu o Senado”, estão com forte presença no mapa turístico carioca.

Para reviver parte do passado português no Rio, é preciso descobrir a Travessa do Comércio 13, que é “o sobrado no qual residiram Carmen Miranda e Aurora Miranda”. Outros sobrados com gradis de ferro, sacadinhas, cantaria emoldurando as portas e janelas na Travessa do Comércio também merecem atenção. Por sua vez, a Rua do Rosário segue essa mesma tradição dos casarios e sobrados.

“Temos neste percurso muito mais do que dez marcas portuguesas ou inspiradas na arquitetura, na geografia, na política, na história, na religiosidade portuguesas.  Mas, podemos pensar em outros Roteiros. Parcerias são sempre bem-vindas, sobretudo se efetivada com o Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional (IPHAN)”, avalia João de Mello.

E quando o assunto fica restrito à beleza das fachadas que se vêem pela cidade, entra em cena Pedro Augusto Lessa, arquiteto urbanista, professor de História da Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pedro, que também atua como urbanista da Secretaria de Urbanismo da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, fez uma seleção de construções que explanam, de maneira forte e original, a influência portuguesa na cidade.

Na opinião deste profissional, locais como a Igreja de N. Sra. da Glória do Outeiro, na Glória, a Igreja de N. Sra. de Monserrate, ao lado do Mosteiro de S. Bento, no Centro, o Forte de São José, na Fortaleza São João, na Urca, os populares Arcos da Lapa, no boêmio bairro da Lapa, e o Convento de Santa Teresa, em Santa Teresa, são de cariz caracteristicamente português, tendo em conta o valor arquitetônico dessas edificações. Juntam-se a esses locais a Igreja da Ordem 3ª do Carmo, no Centro, a Capela de Nossa Sra. da Cabeça, no Jardim Botânico, a Casa do Engenho D´Água, em Jacarepaguá, a Casa do Bispo, no Rio Comprido, e a Ponte, ou represa, dos Jesuítas, em Santa Cruz.

“Entre os critérios observados, cabe destacar a escolha de exemplos cariocas que fossem emblemáticos e representativos da contínua influência lusa sobre nossa arquitetura”, refere Pedro Lessa.

Outros pontos onde a cultura e influência portuguesa estão presentes dizem respeito ao Palácio de São Clemente, em Botafogo, residência oficial do cônsul português no Rio, e o Real Gabinete Português de Leitura, que se destaca na paisagem carioca, sem falar na construção do prédio que abriga o Liceu Literário Português, entre muitas casas de celebração da cultura portuguesa e outras construções que embelezam o cotidiano carioca. E se o Rio se tornou mundialmente conhecido como a cidade maravilhosa, Portugal faz parte desse destino.

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