Vanessa Sene | Mundo Lusíada
Nos 32 anos após a Revolução dos Cravos, portugueses e descendentes estiveram reunidos em mais um 25 de abril para comemoração da data que marca a luta pela democracia e pela libertação da ditadura fascista em Portugal.
Prof.Lincoln Secco, Profa.Maria Felix, jornalista Luciano Maximo, Profa. Candelária, Dr. Antonio Gouveia e o presidente do CC25A, Ildefonso Garcia.
Promovido pelo Centro Cultural 25 de Abril, estiveram reunidos intelectos e participantes desta história, na mesa redonda “Reflexão sobre uma Revolução”, que aconteceu no auditório da Casa de Portugal de São Paulo. Fizeram parte da mesa o professor Dr. Lincoln Secco, professora Maria Felix Correia da Silva, o jornalista Luciano Maximo, e o Dr. Antonio Gouveia, e contou com a coordenação da professora Candelária.
A iniciativa da realização foi do Centro Cultural 25 de Abril que anualmente promove as comemorações da data. “Uma discussão com colocações de posições e experiência de alguns que tiveram lá, justamente vivenciaram, e outros que se aprofundaram na história do 25 de abril” disse o presidente do CC25A, Ildefonso Octavio Severino Garcia, ao Mundo Lusíada. Eleito recentemente, em janeiro de 2006, Ildefonso Garcia permanece na presidência até dezembro de 2007.
Neste ano, o centro cultural esteve comemorando o “25 de Abril” na Praça Mestre de Avis, junto ao monumento Porta de Abril, com a presença de Aldo Rebelo, presidente da Câmara dos Deputados. As comemorações de 2006 contaram ainda com exibição de filme no Espaço Unibanco, e exposição na Estação Sé do Metrô, intitulada “Lutar pela democracia é lutar pela paz”.
Mesa redonda
Lincoln Secco, professor da Universidade de São Paulo, abordou a Revolução dos Cravos em dois marcos: a modificação da idéia de império, existente em Portugal desde 1415, e a saída dos portugueses para outros continentes. Após a revolução se choca a idéia de imperialismo, e da elite política que desejava retorno da idéia de Europa.
Para o apaixonado pelo 25 de Abril, a revolução resolveu outros problemas passados como futuros, e não só a guerra colonial. Para ele, a revolução que abordava igualdade e liberdade foi “generosa”, não houve derramamento de sangue, ao contrário dos golpes da América Latina.
Portuguesa, a professora Maria Felix esteve abordando o 25 de abril de trinta e dois anos atrás com olhos de espectadora. Na época estudante, Maria Felix destacou os pontos que mais lhe são recordáveis da data revolucionária, como o “mar de gente” com suas bandeiras nas mãos, reunidas na Praça de Lisboa. Para ela, ao participar do fato, era surpreso ver tantos conhecidos que pensavam e tinha os mesmos idéias que ela própria.
Luciano Maximo é o jornalista que recebeu prêmio do Centro Cultural do 25 de Abril pelas reportagens, e esteve muito envolvido pela temática durante os 25 dias que permaneceu em Portugal. Em seu estudo, levantou dados sobre a imigração pós Revolução dos Cravos, e constatou que 40% da população deixou o país durante a ditadura de Salazar. Hoje são 5 milhões de portugueses a residirem fora do país, enquanto em Portugal, 10% são estrangeiros.
Maximo notou a forte presença de imigrantes africanos (principalmente de Cabo Verde em Portugal) em locais mais periféricos, não só no país mas na Europa. Esta população à margem lhe chamou a atenção já que foram os estrangeiros que ajudaram os portugueses a entrar na democracia pós Revolução, porém não se integraram à sociedade. “Constatei que precisam de um novo 25 de Abril para tira-los da marginalização”.
Pesquisador da UNICAMP (Universidade de Campinas) em assuntos militares, Antonio Gouveia esteve abordando a ação, ou o golpe, dos militares portugueses em 1974, o qual toma forma de revolução somente com a adesão da população. Falou ainda dos intelectuais que se formam entre os militares, o que acontece na história tanto em Portugal como no Brasil.