Mundo Lusíada
Com Lusa
Cerca de 300 mil portugueses estão atualmente em mobilidade pela Europa, atraídos por um espaço com valores comuns e pelo mercado liberal, mas com preocupações sociais, segundo o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas.
Em entrevista à Lusa, José Luís Carneiro referiu que, de acordo com os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), havia cerca de meio milhão de trabalhadores em mobilidade, mas “285.000 desses, que saíram entre 2011 e 2015, regressaram ao país em períodos inferiores a um ano”.
“Estamos a falar então de um universo de cerca de 300.000 portugueses que estão em mobilidade no espaço europeu, nalguns casos também para outras regiões do mundo, mas o grosso é para a Europa devido aos valores sociais, econômicos, e liberais, mas de mercado e com preocupações sociais”, disse.
Ressalvando que os dados do INE, do Observatório da Emigração e os que são fornecidos pelos países de acolhimento referentes a 2016 ainda estão a ser analisados, o governante referiu, no entanto, que já é possível definir tendências.
“A tendência de concentração no espaço europeu consolida-se, a noção de que há uma geração em mobilidade também se consolida, ou seja, uma geração que sai, mas que regressa em períodos inferiores a um ano ao país, o que significa que cada vez mais a Europa é um espaço de trabalho comum”, acrescentou.
Sobre os destinos dos emigrantes, José Luís Carneiro referiu que “hoje há um fluxo de trabalhadores muito significativo para os países do norte da Europa, nomeadamente a Dinamarca ou a Suécia, onde há um forte investimento público e privado, que exerce uma força centrípeta sobre as empresas e depois sobre os trabalhadores, os mais qualificados e os menos qualificados”.
Questionado sobre o regresso de jovens que emigraram nos últimos anos, referiu que os dados indicam “que, à medida que o país recupera nas suas condições econômicas, há uma tendência de regresso de jovens gerações das mais qualificadas”, nomeadamente os que saíram por falta de emprego.
Um estudo da Fundação Associação Empresarial de Portugal (AEP) divulgado a 17 de maio revelou que 70% dos jovens portugueses qualificados e emigrados nos últimos anos querem regressar ao país.
José Luís Carneiro considerou que os resultados deste estudo, que contou com a participação do Governo, “são positivos e mostram que há nas jovens gerações vontade de regressarem ao país”, acrescentando que está a ser preparado um protocolo de cooperação com a AEP para que os postos consulares possam apoiar estes jovens.
Já em relação aos que saíram à procura de melhores salários, como o caso dos médicos e enfermeiros no Reino Unido, “as saídas consolidaram-se nos países de acolhimento porque vão por períodos de cinco anos” e as “remunerações estão duas a três vezes acima das que se praticam em Portugal”.
De acordo com dados do Observatório da Emigração referentes a 2015, a emigração qualificada passou de 6% para 11%.
“Muitas vezes cria-se a ideia de que há uma grande saída de mão de obra qualificada, mas ela é sempre proporcional à relação no país entre a população altamente qualificada e a mão de obra, e a grande maioria dos trabalhadores continua a ter necessidade de níveis mais elevados de qualificação. A emigração reflete o conjunto da sociedade portuguesa”, disse.
Por outro lado, o secretário de Estado defendeu que “Portugal precisa de receber imigrantes” para combater a falta de população.
“A Europa representou, até 1950, 20% da população mundial e calcula-se que até 2050 vá representar apenas 7%. Este envelhecimento da Europa é um desafio que tem de ser confrontado com políticas de natalidade” mas também, “de forma regulada, receber aqueles que não encontram nas suas regiões segurança para as suas vidas ou soluções para o seu desenvolvimento”, referiu.