O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa (4E), acompanhado pelo Presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues (5E) e por Duarte Pacheco (E) discursa na sessão solene comemorativa dos 44 anos da Revolução de 25 de abril na Assembleia da República em Lisboa, 25 de abril de 2018. ANTÓNIO COTRIM/LUSA
Mundo Lusíada
Com agencias
Os portugueses celebram nesta quarta-feira o 44º aniversário do 25 de Abril, que em Lisboa é assinalado com a tradicional sessão solene no parlamento, a inauguração do jardim Mário Soares e o desfile na Avenida da Liberdade.
Pelas 10:00, o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, abriu a sessão no hemiciclo, depois de a Banda da GNR executar o Hino Nacional, nos Passos Perdidos, dando de seguida a palavra aos representantes dos grupos parlamentares.
O primeiro a intervir foi o deputado único do PAN (Pessoas-Animais-Natureza), André Silva, depois a vez de José Luís Ferreira, pelo PEV, Paulo Sá, do PCP, Ana Rita Bessa, do CDS-PP, Isabel Pires, do BE, Elza Pais, do PS, e Margarida Balseiro Lopes, do PSD.
A sessão solene terminou com os discursos de Ferro Rodrigues e do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. No final da sessão, a canção de José Afonso “Traz outro amigo também”, interpretada pelo Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra.
Essa é a terceira vez que o chefe de Estado discursa na sessão solene do 25 de Abril, ocasião que, em anos anteriores, aproveitou para expressar preocupação com a vitalidade do sistema político.
Do parlamento, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro, António Costa, e o presidente da Assembleia da República seguiram para a zona sul do jardim do Campo Grande, onde é inaugurado, pelas 13:00, o jardim Mário Soares. Na cerimônia de inauguração das obras, que representaram um investimento de 1,2 milhões de euros, está também o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina.
Duas horas depois parti do Marquês de Pombal o tradicional desfile popular, organizado pela Associação 25 de Abril. Sob o lema “Abril de novo, com a força do povo”, o desfile seguie até ao Rossio.
Este ano, às habituais presenças do secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, e da coordenadora nacional do BE, Catarina Martins, junta-se ao ex-ministro das Finanças do governo grego liderado por Tsipras, em 2015, Yanis Varoufákis. Militares e polícias também devem participar no desfile popular, em protesto pelo “não descongelamento” das carreiras.
Também à tarde, a partir das 15:15, o parlamento abre as portas ao público para visitas livres e atividades culturais.
Pela primeira vez, os visitantes vão poder circular entre o edifício da Assembleia da República e a residência oficial do primeiro-ministro, espaços ligados por jardins comuns e, seguindo um itinerário pré-definido, poderão conhecer alguns espaços do Palácio de São Bento que habitualmente não estão abertos ao público.
Estão previstas atuações musicais do Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra e da Orquestra Juvenil da Academia Musical dos Amigos das Crianças. Uma exposição sobre o “Mosteiro de São Bento da Saúde: de casa religiosa a sede do parlamento”, que assinala os 400 anos do edifício onde hoje está sediada a Assembleia da República, será uma das mostras patentes ao público no dia 25 de abril.
Na residência oficial do primeiro-ministro, os visitantes podem ver a chaimite Bula, que foi comandada pelo capitão Salgueiro Maia nas operações militares em 25 de Abril de 1974 e um espaço dedicado ao Orçamento Participativo Portugal 2018.
A chaimite Bula, que também transportou o último presidente do Conselho do Estado Novo, Marcello Caetano, quando saiu do Quartel do Carmo após a rendição, estará estacionada nos jardins de São Bento ao lado de um conjunto de fotografias de alguns dos momentos mais marcantes do dia da revolução.
História
A Revolução dos Cravos foi o desfecho de uma situação que começou muitos anos antes, com movimentos de independência das colônias portuguesas. Depois da Segunda Guerra Mundial, a colonização passou a ser vista como um atentado à liberdade dos povos, e esforços internacionais passaram a ser feitos no sentido de forçar Portugal a conceder independência aos seus “territórios ultramarinos”.
Com a entrada de Portugal na Organização das Nações Unidas em 1955, a situação complicou-se ainda mais, dando início a uma polêmica diplomática que seguiria até o ano de 1974.
A partir de 1961, o que era uma batalha diplomática se transformou em guerrilhas separatistas nos territórios coloniais, com inúmeras revoltas e atos de terrorismo. Em Angola, a guerrilha começou em 1961; na Guiné, em 1963; e em Moçambique, em 1964.
Mesmo com grande esforço militar, as baixas portuguesas durante as Guerras Coloniais foram enormes, considerando-se a população do país (menos de 9 milhões de habitantes à época). Foram cerca de 10 mil soldados mortos e 20 mil feridos com sequelas, sem contar mais de 100 mil homens com estresse pós-traumático.
Com tantas baixas e uma população insatisfeita, os efeitos das Guerras Coloniais tiveram relação direta com o fim da ditadura em Portugal. As pressões não eram mais apenas internacionais. Internamente, o país enfrentava uma população hostil diante da guerra e do militarismo.
Mas foi do Exército que partiu o movimento que acabaria definitivamente com a ditadura. À meia-noite do dia 25 de abril de 1974, os soldados saíram dos quartéis, tomaram as ruas de Lisboa e exigiram a deposição de Marcello Caetano, então presidente do Conselho do Estado Novo.
Naquela noite, a população distribuiu cravos em forma de agradecimento aos soldados rebeldes. A imagem dos militares com cravos nas armas ficou na memória dos portugueses como o símbolo de uma revolução sem violência.
Os rebeldes instituíram uma Junta de Salvação, responsável por fazer a transição do regime e dar fim às instituições ditatoriais, como a Polícia Internacional e de Defesa do Estado (Pide) e a censura.
Dias após a revolta, líderes dos partidos de oposição, como Mário Soares (Partido Socialista) e Álvaro Cunhal (Partido Comunista), voltaram do exílio.