2011: Ano decisivo para o Fado

Fado é Candidato a Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. 

Por Eulália MorenoPara Mundo Lusíada 

Na sexta-feira, dia 28 de Janeiro, o Teatro Municipal de S. Luiz, acolheu  o  momento do lançamento da proposta do Fado como candidato a Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade (UNESCO).

A cerimônia realizou-se logo após a estréia em Lisboa do espetáculo "Sombras – a nossa tristeza é uma imensa alegria", encenado por Ricardo Pais e que tem o Fado como tema central. Ao espetáculo assistiu o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, que garantiu ser "dos primeiros da lista de apoiantes desta candidatura". Para o Presidente da República, o Fado é uma "expressão genuína" da nossa identidade, refletindo a "alma portuguesa".

Coube a Catarina Vaz Pinto, vereadora do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, apresentar a candidatura, que classificou de "projeto mobilizador da comunidade artística", cuja adesão "por toda a sociedade civil é um sinal da vitalidade artística de Lisboa". Também o presidente da autarquia, Antonio Costa, referiu-se ao trabalho científico que sustenta a candidatura como "um trabalho de grande importância e que, independentemente do que venha da decisão da UNESCO, permitiu já termos hoje um acervo, um museu e um conhecimento do Fado muito mais  aprofundado do que tínhamos". Só por isso, garantiu o autarca, esta "é uma candidatura que já valeu a pena”.

Igualmente presente, a ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, considerou que o Fado "é uma das nossas expressões mais identitárias e iconográficas". A ministra manifestou a sua confiança no resultado desta candidatura, que deverá ser conhecido ainda este ano, uma vez que "existe fascínio pelo mundo fora por esta expressão musical", que já "é cantada por japoneses, chilenos e outros, em todo o mundo".

Rui Vieira Nery, que presidiu à Comissão Científica da candidatura, referiu que esta "ultrapassou todas as barreiras partidárias em nome de uma causa coletiva de salvaguarda e promoção da Cultura portuguesa", congregando os esforços de instituições, coletividades e profissionais do Fado (fadistas, editoras, músicos, empresários) e permitindo ao longo do processo "ganhar maior consciência desta nossa identidade" o que, considerou, é já "uma primeira vitória da candidatura".

A  proposta de candidatura foi inicialmente aprovada por unanimidade na Câmara Municipal de Lisboa e na Assembléia Municipal, colhendo depois o apoio unânime dos partidos representados na Assembléia da República e o do próprio Governo e conseguiu o Alto Patrocínio do Presidente da República.

Foram muitas as personalidades do meio artístico que quiseram estar presentes na cerimônia, como forma de apoio à candidatura. Por exemplo, a cantora Marisa (que, com Camané e Carlos do Carmo, acedeu a colaborar como "embaixadora" da candidatura) considera que é de grande importância este passo "na projeção internacional do Fado", para "o tornar mais conhecido, bem como à cultura portuguesa". O pintor Júlio Pomar espera que, independentemente da decisão da UNESCO, a candidatura venha a fortalecer "a nossa auto-estima" e a "satisfação pelo que temos de melhor" uma vez que "não é nenhum organismo internacional que nos vai ensinar qual o valor do Fado, como não é nenhum organismo internacional que nos vai dizer que o Camões foi um grande poeta", afirmou.

 

Quando o Teatro é Fado e vice versa 

Uma hora antes da sessão de lançamento da candidatura do fado será apresentada a peça “Sombras- A nossa tristeza é uma imensa alegria” , a mais recente criação de Ricardo Pais que tem o Fado como seu tema.

“Sombras” é o regresso de Ricardo Pais à encenação e segundo a informação distribuída a imprensa:  “Sombras sonda – poderíamos dizer sonha – o modo de ser português, indagando lugares do nosso inconsciente mítico e da nossa personalidade histórica. “Portugal: questão que tenho comigo mesmo”, segundo a fórmula de Alexandre O’Neill.

Tributo apaixonado às mais belas palavras escritas em português e visitadas por Ricardo Pais ao longo dos anos (António Ferreira, Garrett, Pessoa, entre outros), estas Sombras fazem-se também do Fado e da música original de Mário Laginha.

“Sombras constrói-se numa espécie de paisagem cênica insólita, cheia de eventos inesperados e contrastantes. É um espetáculo multidisciplinar, decididamente contra os tiques da fusão ou da world music. Tem no Fado o seu coração sofrido e no Fandango uma espécie de cavalgada eufórica” , resume Ricardo Pais.

No elenco, os fadistas José Manuel Barreto e Raquel Tavares, os atores Emília Silvestre, Pedro Almendra, Pedro Frias, os bailarinos Carla Ribeiro, Francisco Rousseau e Mário Franco e os músicos Mario Laginha (piano), Carlos Piçarra Alves (clarinete), Mario Franco (contrabaixo), Miguel Amaral (guitarra portuguesa) e Paulo Faria de Carvalho (viola de fado).

Esse espetáculo tem apresentações agendas para São Paulo, Santos e Belo Horizonte, durante o próximo mês de Junho em datas ainda a serem definidas.

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