Da Redação com Lusa
O Presidente de Portugal afirmou neste dia 08 que um dos objetivos das comemorações do Dia de Portugal, que se iniciam esta noite em Pedrógão Grande, é lembrar a “dupla tragédia” dos incêndios de 2017 e projetar o futuro.
Marcelo Rebelo de Sousa fez estas breves declarações aos jornalistas na Feira do Livro de Leiria, onde foi recebido por manifestantes (alguns com megafones) que lhe pediram o reconhecimento do Estado da Palestina por Portugal. O chefe de Estado cumprimentou vários dos manifestantes, mas não fez qualquer comentário de ordem política.
Aos jornalistas, o Presidente da República afirmou que o objetivo das comemorações do Dia de Portugal deste ano “é chamar a atenção para o que foi a dupla tragédia de junho e outubro de 2017”.
“Por outro lado, uma preocupação de futuro, o que já mudou e o que é preciso mudar. Portanto, vai ser um conjunto de dias, até segunda-feira, em vários concelhos”, disse.
As comemorações do Dia de Portugal em território nacional vão realizar-se em três concelhos de Leiria afetados pelos incêndios de 2017 – Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera – e em Coimbra, sem comissão organizadora nomeada.
O incêndio que deflagrou em 17 de junho de 2017 em Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, e que alastrou a concelhos vizinhos, provocou 66 mortos e mais de 250 feridos, sete dos quais graves, destruiu meio milhar de casas e 50 empresas.
Nas breves declarações que fez aos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa apontou, também, que na Feira do Livro de Leiria aproveitou para comprar vários livros que não teve a possibilidade de adquiri-los na Feira do Livro de Lisboa, entre os quais uma biografia de Jorge Palma e dois para crianças.
Em Leiria, o Presidente da República fez uma primeira visita imprevista à Feira do Livro de Leiria ao início da tarde, altura em que, segundo testemunhas, mas sem a presença da comunicação social, comprou esses livros e assistiu à leitura de um conto para crianças.
Estas serão as primeiras comemorações do Dia de Portugal que Marcelo Rebelo de Sousa irá assinalar com o atual primeiro-ministro, Luís Montenegro, com quem estará, depois, na Suíça, a partir de terça-feira, 11 de junho, junto de comunidades emigrantes portuguesas.
Segundo a Presidência da República, as comemorações oficiais têm início no domingo de manhã, no Memorial de Homenagem às Vítimas dos Incêndios Florestais de 2017, com a cerimônia do içar da bandeira nacional, seguida de homenagem às vítimas dos incêndios florestais de 2017. Ao fim da manhã, será celebrada uma missa em Figueiró dos Vinhos dedicada às vítimas”.
Ainda no domingo, “durante a tarde, em Castanheira de Pera, decorre a apresentação de cumprimentos do corpo diplomático ao Presidente da República, seguida de recepção” e de noite haverá “um concerto e um espetáculo multimédia na Praia das Rocas, em Castanheira de Pera”.
No dia 10 de Junho, segunda-feira, realiza-se em Pedrógão Grande a Cerimónia Militar Comemorativa do Dia de Portugal, em que o Presidente da República irá discursar, e “na qual participam mais de 1.300 militares dos três ramos das Forças Armadas”.
A seguir, “o Presidente da República, acompanhado pelo primeiro-ministro Luís Montenegro, parte para Coimbra para as celebrações dos 500 anos de Camões”.
As celebrações do quinto centenário do nascimento do poeta Luís Vaz de Camões têm início neste 10 de Junho, dia da sua morte, e a cerimônia inaugural, na Universidade de Coimbra, foi incluída no programa de comemorações oficiais do Dia de Portugal.
Europa
Numa intervenção de 20 minutos que fez no final de um debate intitulado “E depois da liberdade”, no âmbito da Feira do Livro de Leiria, com a presença dos escritores Bernardo Pires de Lima, Joaquim Vieira e de Rita Canas Mendes, o presidente Marcelo admitiu que o “salto” que se espera em relação ao futuro da Europa tenha protagonistas do passado recente.
Escutado por dezenas de pessoas, entre elas vários jornalistas, o chefe de Estado advertiu logo no início da sua intervenção que iria ser cauteloso nas declarações que iria proferir por ser dia de reflexão para as eleições europeias.
Quando se referiu ao livro recentemente lançado por Bernardo Pires de Lima, intitulado “Ano Zero da Nova Europa”, falou sobre a ideia de rutura em termos epistemológicos e deixou uma mensagem bem concreta: “No caso da Europa, bem pode acontecer o salto venha a ser dado por alguns dos protagonistas do passado recente, provavelmente os mais abertos ao futuro próximo, porque não há ruturas totais”.
De acordo com o chefe de Estado, colocam-se à Europa novos desafios “que são diferentes de todos os desafios que se colocaram nos últimos 30 anos em termos de guerra, de energia, de digital, em termos sociais e econômicos”.
“Mas isso não quer dizer que a História se faça por ruturas absolutas. Portanto, bem pode acontecer que esse Ano Zero, como em tudo na História, que parece um ano de rutura radical, tenha uma componente de rutura e uma componente de continuidade”, defendeu.
Marcelo Rebelo de Sousa recorreu depois aos tempos em que foi deputado à Assembleia Constituinte eleito pelo PPD (Partido Popular Democrático).
“Havia a ideia de fazer um país totalmente novo. Depois, chegamos à conclusão que numa parte sim, mas também havia continuidades. E algumas continuidades pesam. Houve uma rutura com a democracia, liberdade, uma nova organização política, econômica e social, com o fim do Império. Mas houve continuidades culturais, sociais e históricas, das quais só nos apercebemos mais tarde e que pesaram nas decisões para os momentos seguintes”, acrescentou.
Também na sua intervenção, o Presidente da República salientou o estudo do Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) que concluiu que a maioria dos portugueses considera a revolução de 25 de Abril de 1974 o acontecimento mais importante da História de Portugal – um dado que, na sua perspetiva, revela a adesão dos cidadãos à democracia.
“Fiquei surpreendido, não esperava este resultado. As respostas são esmagadoras no sentido positivo a favor da democracia, não deixando de criticar o que neste momento é considerado negativo”, apontou.
Marcelo Rebelo de Sousa apontou que o estudo do ISCTE foi feito em 2004, 2014 e este ano.
“Em todos os momentos, este é aquele em que o juízo a favor da democracia é mais positivo, embora com críticas que não havia nem em 2004, nem em 2014. Por exemplo, a habitação não surge nem em 2004, nem em 2014. A corrupção também não aparecia naquela altura como aparece hoje, assim como alguns aspetos relacionados com a segurança. Mas o saldo global, comparado com o saldo que as pessoas fazem da ditadura e seus vários aspetos, mostra que já há uma visão histórica e um distanciamento”, sustentou.
Na perspectiva do Presidente da República, o estudo em causa “revela a maturidade de uma nação que é muito velha, que já viu tudo”.