Mundo Lusíada com Lusa
O Presidente português anunciou em 12 de junho o sonho de realizar as comemorações do Dia de Portugal no próximo ano junto da comunidade emigrante da Venezuela, mas admitiu não saber se haverá condições de o concretizar.
No final das comemorações do 10 de Junho na Suíça, Marcelo Rebelo de Sousa foi questionado pela comunicação social se já tinha decidido os locais das comemorações do próximo ano, escusando-se inicialmente a responder, uma vez que ainda não tinha falado com o primeiro-ministro, Luís Montenegro, que estava ao seu lado.
O chefe do Governo disse que não se importaria com esse anúncio, pelo que o Presidente da República avançou: “Se o primeiro-ministro não se importa, ele percebe porque vou dizer isto, é um sonho que tenho há muito tempo”.
“Se houver condições adoraria que fôssemos à Venezuela, é mudar de continente, é um sonho nosso, de uma comunidade que tem tantos anos e que tanto tem prestigiado do nome de Portugal”, disse.
Questionado o que pensa desta ideia, Luís Montenegro disse que o momento era de balanço do Presidente da República, afirmando apenas compreender a intenção do chefe de Estado.
“Compreendo bem a intenção do senhor Presidente da República de mais uma vez estar ao lado de uma comunidade que tem tido tempos difíceis”, disse.
Sobre se haverá condições políticas e de segurança na Venezuela para este tipo de comemorações, Marcelo Rebelo de Sousa disse não querer acrescentar mais nada.
“É um sonho que tenho há muito tempo, veremos se há condições para realizar o sonho”, admitiu,
Quando assumiu a chefia do Estado, em 2016, Marcelo Rebelo de Sousa lançou, em articulação com o então primeiro-ministro, António Costa, e com a participação de ambos, um modelo inédito de duplas comemorações do 10 de Junho, primeiro em Portugal e depois junto de comunidades portuguesas no estrangeiro. A Suíça foi o sétimo país estrangeiro a acolher a celebração, após França (2016), Brasil (2017), Estados Unidos (2018), Cabo Verde (2019), Reino Unido (2022) e África do Sul (2023), sendo que em 2020 e 2021 só houve cerimônias em Portugal devido à pandemia da covid-19.
Nas comemorações do 10 de Junho em Portugal, o Presidente da República só tinha avançado que o seu último Dia de Portugal como chefe de Estado, em 2025, se iria realizar, em território nacional, “a sul” do país, e adiantou que será comemorado de forma “original”.
“Já tenho uma ideia do meu último 10 Junho como Presidente da República, mas ainda não vou dizer. Tenho uma ideia, que também vai ser original, mas prometi que era no Sul”, afirmou, no domingo.
Este ano, em vez de escolher uma única localidade em território nacional para palco do Dia de Portugal, o Presidente da República decidiu assinalar esta data em três concelhos do distrito de Leiria afetados pelos incêndios de 2017: Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera.
As comemorações oficiais do 10 de Junho, que se iniciaram em dia de eleições para o Parlamento Europeu, passaram ainda pela Universidade de Coimbra, onde teve lugar a cerimônia inaugural das celebrações dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões, estendendo-se, desde terça-feira até hoje, junto de comunidades emigrantes portuguesas.
Atenção às comunidades
Marcelo Rebelo de Sousa, prometeu ainda à comunidade portuguesa na Suíça que pode contar com “mais presença e mais atenção” aos problemas que afetam os emigrantes portugueses pelo mundo, defendendo encontros regulares.
Discursando perante cerca de duas centenas de emigrantes em Zurique, no último evento das comemorações do 10 de Junho Marcelo observou que este ano houve “algo de novo” nas celebrações junto das comunidades, normalmente alargadas, pois, em conjunto com o primeiro-ministro, Luís Montenegro, manteve encontros “mais restritos”, para poder ouvir de representantes da comunidade os problemas desta.
“Hoje quisemos ouvir o que é que duas dezenas de luso-suíços, conselheiros das comunidades, conselheiros da diáspora, dirigentes associativos, responsáveis ou protagonistas podiam dizer, vindo de diversos cantões, acerca dos problemas da comunidade portuguesa na Suíça”, apontou, sublinhando que estes representantes “falaram em nome de 260 mil”, o número oficial de portugueses com cartão de cidadão radicados na Suíça.
“Falaram em vosso nome e disseram tudo o que preocupam aqueles que cá estão há 50, 60 anos, que se vão reformar e querem regressar a Portugal, falaram em nome daqueles da geração seguinte, que têm problemas no dia a dia, no associativismo, nos acidentes de trabalho, na relação com a economia, com a sociedade, nos problemas de impostos, do tratamento fiscal de um país e do outro”, disse, sintetizando que foram abordadas “inúmeras questões”.
O Presidente da República considerou a reunião – realizada à porta fechada imediatamente antes do evento de encerramento – muito útil, garantindo que há agora uma maior noção sobre as dificuldades que a comunidade enfrenta e de que há noção de que é preciso fazer mais para lhes dar respostas.
“Nós saímos daqui a saber mais sobre a comunidade portuguesa na Suíça. Saímos daqui a conhecer melhor os vossos problemas. Saímos daqui preocupados com a resposta que é preciso dar-vos, e, desde logo, com um compromisso: é que encontros como aquele que tivemos hoje, mais restritos para ouvir problemas, têm de ser constantes”, disse então, ainda que reconhecendo o esforço feito pela embaixada.
“Mas prometemos mais: prometemos ainda mais presença e mais atenção, por uma razão muito simples: porque é essa a nossa maneira de ser e é esse o compromisso que assumimos com este primeiro encontro”, disse.
No final do evento, em declarações à imprensa antes do regresso a Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa adiantou que há plena sintonia com o primeiro-ministro, revelando que Montenegro, “na conversa com os conselheiros, quer da comunidade, quer da diáspora, respondeu, uma a uma, às várias questões, e são muitas”.
Segundo o Presidente, que tinha Luís Montenegro a seu lado, este “afirmou que o Governo está muito virado para considerar algumas dessas questões” e “explicou o que, nos vários domínios, o Governo tenciona aplicar, qual a linha de orientação, qual o programa, e qual o ritmo que quer imprimir”.
“Portanto, aí estamos os dois de acordo: que há imenso a fazer, que há muitas questões que são novas e que vão aparecendo todos os dias […] Foi bom podermos ouvir o que eles pensam, e isso é novo no Dia de Portugal: poder sair daqui com mais ideias e o Governo com determinadas orientações, que têm a ver com o seu Programa de Governo, para responder a essas necessidades”, completou.
Durante o primeiro dia na Suíça, Marcelo e Montenegro foram confrontados, em dois momentos distintos, com queixas de emigrantes, primeiro de um grupo de professores de português que se dizem vítimas da falta de atualizações dos salários num país onde dizem ser particularmente castigados pela desvalorização cambial, e, um pouco mais tarde, de um pequeno grupo em representação dos funcionários consulares «extra tabela» que exigem uma solução célere para a sua situação.
O encontro de quarta-feira com a comunidade em Zurique foi também atípico face a anteriores comemorações junto das comunidades nos últimos anos, habitualmente bastante alargadas e muito festivas, terminando num auditório, que não estava esgotado, com um concerto de música clássica por jovens músicos portugueses, sem que tenha havido qualquer festa mais popular com os emigrantes durante os dois dias na Suíça.
Estas foram as primeiras comemorações do Dia de Portugal que o chefe de Estado assinalou com o atual primeiro-ministro, Luís Montenegro, na sequência das legislativas antecipadas de 10 de março, das quais resultou a formação de um Governo minoritário PSD/CDS-PP, após oito anos de governação do PS.