10 Junho: Mensagem do Embaixador de Portugal Francisco Ribeiro Telles

RibeiroTelles

Quero saudar a Comunidade portuguesa no Brasil, deixando uma merecida mensagem de simpatia, de estímulo e de otimismo. Uma Comunidade que tanto honra e dignifica o nosso país, exemplo de integração de sucesso na sociedade brasileira, de entusiasmo, de empreendedorismo e de solidariedade. Contamos com todos, portugueses e luso-brasileiros, para trazer mais Portugal ao Brasil. E saibam que podem continuar a contar com o empenhamento desta Embaixada, para bem de Portugal e da nossa relação de proximidade com o Brasil.

Além de nos juntar, as comemorações nacionais são uma ocasião para partilharmos um pouco mais de nós com o país que nos acolhe. Uma ocasião para celebrarmos o que nos une.

Aproveito para vos falar um pouco do meu País e do nosso relacionamento bilateral com o Brasil:

Temos hoje fortes razões para nos orgulharmos do país que temos: um país moderno e inovador, com boas infraestruturas, recursos humanos e serviços, na primeira linha europeia em várias áreas de empreendorismo, como no investimento em fontes de energia renovável ou na criação e promoção de “start-ups”, de que é exemplo a Web Summit, o maior evento de empreendorismo, tecnologia e inovação do mundo, que a partir de novembro escolhe Lisboa como sua sede para os próximos três anos.

Por outro lado, e fruto da situação económica do passado recente, a economia portuguesa tem-se ajustado e aproximou-se ainda mais do Brasil.

Os números das trocas comerciais – que se têm intensificado e diversificado ao longo dos últimos anos – são encorajadores. Entre 2010 e 2014 as exportações portuguesas (de bens e serviços) para o Brasil cresceram, em média, 7,1% ao ano. Em 2015, e face a uma conjuntura desafiante, as exportações portuguesas (de bens e serviços) para o Brasil registam bons números (1.510 Milhões de Euros) e continuamos a apresentar um superavit na nossa balança comercial.

O investimento estrangeiro no nosso país é positivo e nesta matéria, uma vez mais, o Brasil destaca-se. Portugal é reconhecido como centro de localização competitiva para o investimento externo brasileiro e plataforma logística e de negócios para atingir não só o mercado europeu como outros. Cito como exemplo, pela sua escala e pela alta tecnologia envolvida, as duas fábricas da Embraer, em Évora.

Para reforçar este ponto, na edição 2015 do ranking das multinacionais brasileiras da Fundação Dom Cabral, Portugal é apontado como o primeiro país europeu de destino daquelas empresas.

Não resisto em fazer referência a outro ranking em que Portugal surge em posição de destaque. De acordo com dados do Instituto Brasileiro do Vinho, Portugal foi o 3º país que mais vinho exportou para o mercado brasileiro em 2014. Portugal representa assim 12% do vinho exportado para o Brasil. É caso para dizer que os brasileiros estão a tomar o gosto ao vinho português. Não há dúvida que têm bom gosto!

O Brasil reconhece cada vez mais Portugal como um país da inovação e do conhecimento. Na nossa última Cimeira bilateral, assinámos importantes acordos nas áreas da investigação e da nanotecnologia. A nossa expectativa é que, por ocasião da próxima Cimeira, possamos aprofundar ainda mais a nossa cooperação no plano da ciência, tecnologia e inovação, assim como na área académica, cultural, agrícola e comercial, entre outras.

O Brasil, por seu lado, oferece excelentes perspetivas para a internacionalização das empresas portuguesas. As maiores empresas nacionais estão já instaladas neste país, em áreas essenciais como a energia, a construção, o turismo ou as telecomunicações. A título de exemplo, quero referir o investimento de 800 milhões de Reais da SECIL na inauguração da nova e mais moderna fábrica de cimento do país, localizada no Estado do Paraná, representando o maior investimento industrial português dos últimos anos no Brasil. Posso ainda acrescentar a construtora Teixeira Duarte, que ganhou há poucos meses um novo contrato (no valor de cerca 65 milhões de Euros) para recuperação de uma ponte em Florianópolis, no Estado de Santa Catarina.

Estes são apenas dois exemplos que demonstram que as empresas portuguesas são bem-vindas. Os nossos profissionais qualificados são igualmente bem recebidos e o reconhecimento mútuo de diplomas nas áreas de engenharia e arquitetura já é uma realidade.

Para além das trocas económicas, temos tido um número crescente de turistas e estudantes brasileiros, assim como intercâmbios culturais e científicos.

Pelas livrarias deste país, a moderna literatura portuguesa está já em lugar de destaque. Em sentido inverso, passam hoje pelas universidades portuguesas milhares de estudantes brasileiros, num reconhecimento implícito da qualidade que o ensino português hoje apresenta, com vários estabelecimentos de ensino bem posicionados nos “rankings” europeus e internacionais. Se excluirmos o programa Ciência sem Fronteiras, estudam em Portugal perto de 6000 estudantes brasileiros, ao abrigo de dezenas de acordos e convénios estabelecidos entre universidades portuguesas e brasileiras. Este número deverá aumentar significativamente num futuro próximo, uma vez que são cada vez mais as universidades portuguesas que aceitam os resultados do ENEM para as matrículas, com base num acordo com o INEP brasileiro (neste momento são 14).

No que diz respeito ao turismo, será de sublinhar que nos últimos dois anos, recebemos mais de um milhão de turistas brasileiros e este ano queremos receber ainda mais. Fora do espaço europeu, o Brasil é o maior mercado emissor de turistas em Portugal. Onde, aliás, a Comunidade brasileira é a maior Comunidade estrangeira residente (quase 90 mil, de acordo com dados oficiais, o que representa cerca de 22% dos estrangeiros que vivem legalmente no país). Estes números não serão alheios ao facto de que a TAP opera mais de 80 voos semanais entre 12 cidades do Brasil e Lisboa, a que acresce recentemente uma parceria com a Azul. E que emoção chegar a Lisboa e ouvir falar o “português açucarado” do Brasil nas ruas!

A propósito da nossa língua comum, quero relembrar que o português é hoje o 4º idioma mais falado no Mundo, com aproximadamente 260 milhões de falantes. É ainda a 3ª língua mais presente no Facebook e a 5ª com maior número de utilizadores na internet. Estes dados devem-se, obviamente, muito à população brasileira, que contribui para que o português seja hoje a língua mais falada no Hemisfério Sul. De resto, lembro que o maior prémio literário de língua portuguesa, o Prémio Camões, foi este mês atribuído a um grande escritor brasileiro, Raduan Nassar. E não posso deixar de referir que, em breve, podemos até vir a ter um Secretário-Geral da ONU lusófono!

Chamo ainda a atenção para o crescimento do número de brasileiros que nos últimos anos adquiriram a nacionalidade portuguesa (só em São Paulo foram 40 000 nos últimos 5 anos).

Uma referência também à participação do Brasil no Programa de “vistos gold” – um regime especial de autorização de residência para atividades de investimento acima de um determinado valor em milhares de Euros, que é válida para Portugal e para todo o chamado espaço Schengen dentro da União Europeia. Ao fim de 3 anos e meio, o programa gerou quase 2 biliões de Euros (cerca de 8 mil milhões de Reais), com inegável contributo para a recuperação do mercado imobiliário português e o crescimento do emprego no país. O Brasil ocupa a segunda posição, com 140 autorizações no final de março deste ano.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Partilhamos uma história comum de vários séculos. Uma história feita de encontros e desencontros e o que sobra – e não é pouco – é uma língua comum e uma enorme afetividade entre os nossos dois povos. Independentemente dos períodos de turbulência pontual ou conjuntural que podem surgir de vez em quando, a intensidade das relações entre os nossos países no plano político, económico, académico e cultural fará invariavelmente parte das nossas prioridades e o seu potencial supera sempre as contingências de ciclo.

Aproveito a oportunidade para felicitar o Brasil e os brasileiros pela organização dos próximos Jogos Olímpicos que começam dentro de dois meses e que contará também com a presença do nosso Presidente da República.

A todos os Portugueses que vivem no Brasil e aos que vêm para os Jogos Olímpicos, deixo um apelo: encham os estádios e as ruas com as cores da nossa bandeira, tal como fizemos há dois anos por ocasião da Copa de futebol! Vamos apoiar os nossos atletas!

Independentemente das modalidades, que ganhe o melhor! E, se possível, que possamos assistir a muitas vitórias festejadas em português! E, já agora, uma curiosidade: sabiam que o estojo das medalhas olímpicas é 100% de produção portuguesa? Pois é, Portugal já entrou a ganhar!

Por último, também aproveito esta ocasião para vos informar que, ao fim de quase 4 anos e meio, estou de partida para outro posto. Foi um período intenso e muito gratificante em que pude contar com o apoio e amizade de muitas pessoas, várias das quais aqui presentes. Em meu nome e em nome da minha Mulher, não posso assim deixar de transmitir a todos uma sentida palavra de agradecimento e reconhecimento pela forma calorosa como nos acolheram e quero que saibam que levaremos Brasília (e o Brasil) connosco no coração.

Viva o Brasil! Viva Portugal!

 

FRANCISCO RIBEIRO TELLES

Discurso do Embaixador de Portugal no Brasil por ocasião do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, Brasília, 9 de junho de 2016

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