Plantações de chá dos Açores produzem 50 toneladas anuais e são únicas na Europa

Da Redação
Com Lusa

Começou apanha de Chá na Fábrica de Chá Porto Formoso na de Ribeira Grande, na costa norte da ilha de São Miguel, nos Açores, 13 de Maio. As duas únicas plantações de chá com fins industriais da Europa ficam na ilha de S. Miguel, nos Açores, com uma produção anual de cerca de 50 toneladas, são hoje também um produto turístico da ilha. EDUARDO COSTA/LUSA
Começou apanha de Chá na Fábrica de Chá Porto Formoso na de Ribeira Grande, na costa norte da ilha de São Miguel, nos Açores, 13 de Maio. As duas únicas plantações de chá com fins industriais da Europa ficam na ilha de S. Miguel, nos Açores, com uma produção anual de cerca de 50 toneladas, são hoje também um produto turístico da ilha. EDUARDO COSTA/LUSA

As duas únicas plantações de chá com fins industriais da Europa ficam na ilha de S. Miguel, nos Açores e, com uma produção anual de cerca de 50 toneladas, são hoje também um produto turístico da ilha.

Chegou a ter seis fábricas de chá na costa norte da ilha de S. Miguel e entre os anos de 1980 e o início deste século só uma, a Gorreana, na freguesia da Maia, Ribeira Grande, continuou a funcionar.

Esta fábrica produz chá preto e verde e, com os seus 32 hectares de plantação e as 38 toneladas que produz em média por ano, segundo disse à Lusa o responsável pela Gorreana, Hermano Mota, continua a ser a maior.

A outra fábrica em funcionamento é a Chá Porto Formoso, também no concelho da Ribeira Grande, que voltou a abrir em 2001. A produção é pequena: tem cinco hectares de plantação e produz entre 12 e 14 toneladas de três variedades de chá preto por ano, vendendo cerca de 60% da produção na própria loja do espaço da fábrica. O restante é vendido nos Açores e uma pequena parte nas chamadas lojas ‘gourmet’ do resto do país.

“Hoje em dia, o chá é um produto turístico. Nós só estamos no mercado porque é um produto turístico”, disse à Lusa José António Pacheco, proprietário da fábrica, que recebe cerca de vinte mil visitantes por ano.

Os turistas visitam a fábrica e a plantação, podem passar por um espaço museológico, provar o chá e assim também “conhecer um pouco da história dos Açores”, sublinhou.

No caso da Gorreana, que também se pode visitar, em 2012, cerca de 47% da produção destinou-se ao mercado açoriano, “trinta e qualquer coisa por cento” foi para o continente e o restante foi vendido para o estrangeiro, com a França a superar as vendas para a Alemanha recentemente, por causa do chá verde e por a fábrica ter conseguido entrar numa “boa casa de distribuição francesa”, segundo Hermano Mota.

De acordo com este responsável, as vendas para o continente têm “muitas oscilações”, enquanto nos Açores o consumo de chá “faz parte do dia a dia”.

As primeiras plantas de chá chegaram aos Açores, vindas do Brasil, no século XVIII, segundo diversos registos e citações na imprensa local. Inicialmente, era uma planta ornamental, que se dava bem com o clima temperado e as chuvas da ilha e ganhava aroma com o subsolo vulcânico.

As plantações de chá e o fabrico foram depois impulsionadas pela Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense que, em 1878, levou dois chineses até S. Miguel para ensinarem os locais o processo de produção.

“Não há uma casa em Porto Formoso onde não se beba um chá de manhã”, garantiu Luísa Teixeira, antiga apanhadeira de chá, recebendo a concordância de Luísa Cabral e Dionísia Rei.

As três estiveram na fábrica Chá Porto Formoso, integrando um grupo de cem figurantes que recriaram a colheita manual da folha do chá, como acontecia na primeira metade do século XX, e “a vivência associada ao chá” na ilha de S. Miguel.

“O chá na ilha de S. Miguel tem uma história muito rica e, associada a essa cultura agrícola, há uma etnografia interessante que importa divulgar”, defendeu José António Pacheco.

Luís Teixeira, Luísa Cabral e Dionísia Rei lembram-se bem de quando havia várias fábricas na região e as famílias tinham plantações próprias de chá. Entre maio e setembro, carregavam-se “camiões” de folha de chá para as fábricas, garantiram, lembrando ainda os “ranchos de mulheres” que a apanhavam, em jornadas de trabalho, mas também de alguma festa e de muitos “bordados e rendas” na pausa para o almoço.

A partir dos anos de 1960, as fábricas foram fechando e as plantações foram sendo substituídas por pastos para as vacas.

Ainda assim, restam “três ou quatro famílias” em Porto Formoso com plantas de chá preto nos seus terrenos e que produzem todo o chá que consomem durante um ano. No caso de Adelina Rebelo, 40 anos e filha de Luísa Teixeira, isso significa um a dois quilos por cada apanha.

“A chaleira está sempre ao lado do lume” e o chá bebe-se de manhã e para acompanhar as refeições. “É chá a todas as horas”, assegurou Adelina.

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