Após críticas, Ventura diz que não tem “vergonha nenhuma” da forma como inquiriu mãe de gêmeas

Mundo Lusíada com Lusa

 

O líder do Chega disse nesta segunda-feira não ter “vergonha nenhuma” da forma como inquiriu a mãe das gêmeas luso-brasileiras e indicou que o partido propôs a audição na comissão parlamentar de inquérito do empresário José Magro.

“Ao contrário do que tem sido dito por Pedro Nuno Santos e por vários responsáveis do PSD, eu não tenho vergonha nenhuma nem nenhum espírito de reconsideração em relação à inquirição que o Chega levou a cabo à doutora Daniela Martins”, afirmou.

Em declarações aos jornalistas na sede do Chega, em Lisboa, André Ventura respondeu às críticas de que o partido tem sido alvo nos últimos dias na sequência da audição da mãe das gêmeas tratadas com o medicamento Zolgensma em Lisboa.

O líder do Chega defendeu que “é preciso que alguém consiga dar um murro na mesa, consiga expor as contradições e as omissões, mesmo em situações de difícil emotividade ou de especial vulnerabilidade ou fragilidade”.

“É isso que espero dos outros partidos em vez de horas e horas de choradeira, emotividade e de protecionismo, é trabalho, doa a quem doer e independentemente da personalidade em causa, para que essa verdade seja alcançada”, afirmou.

André Ventura defendeu que “todos os partidos devem estar preocupados com a verdade” e que a comissão de inquérito só conseguirá apurar a verdade “dentro de um clima de consenso, se outros também deixarem de se preocupar com emoções, com falsas proteções ou com jogos de bastidores” e se preocupem com que a pessoa ouvida diga a verdade.

O líder do Chega considerou que “qualquer pai ou mãe fazem tudo para salvar os seus filhos, mas isso não os inibe depois, nomeadamente quando o medicamento já foi aplicado, de dizer a verdade do processo que ocorreu para o obter, quando o dever de gratidão para com este país também devia ser muito grande”.

“Ser receptor líquido de um volume como foi aquela família, ter beneficiado a saúde dos seus familiares, e vir a este parlamento omitir a verdade, escondê-la ou simplesmente manobrá-la não é um bom serviço aos portugueses, que pagaram aquele tratamento”, considerou, acusando a mãe de “absolutas incoerências, inverdades, evidentes omissões e contradições” e de ter mentido para “proteger alguém”.

O deputado considerou igualmente estar em causa uma violação e “uma burla” ao sistema de saúde português e “eventualmente ao sistema de justiça na obtenção de nacionalidade”.

Aos jornalistas, o coordenador do Chega na comissão de inquérito disse também que o partido pediu que a audição do empresário José Magro.

“A entrada em cena de José Magro, bem como a caracterização hoje conhecida da empresa dona dos Lusíadas em 2019, deve levar a comissão de inquérito a uma investigação de outra linha que envolve negócios, parceiros de negócios e eventualmente círculos financeiros”, sustentou.

Ventura indicou que José Magro, “gestor de negócios, habituado a trabalhar como intermediário entre o Brasil e Portugal, próximo de Nuno Rebelo de Sousa, deve ser chamado a esta comissão para explicar que relações existiam não só no âmbito económico, como político” e prestar esclarecimentos à Assembleia da República sobre “como foi marcada a consulta nos Lusíadas, quem a desmarcou e como é que todo este circuito foi feito”.

O nome de José Magro surgiu na última audição da comissão de inquérito pela deputada do BE Joana Mortágua. A bloquista disse que Carlos Magro estava em conhecimento num email que a mãe das crianças enviou para o diretor dos Lusíadas a pedir a consulta, e que depois o gestor de negócios, que será próximo de Nuno Rebelo de Sousa, respondeu a essa mensagem a garantir o apoio daquele hospital e o envolvimento da médica Teresa Moreno.

Sobre a proposta do advogado da mãe de alteração do nome da comissão de inquérito, André Ventura rejeitou, considerando que “não faz sentido mudar o nome de uma comissão a veio, muito menos que quem cá vem diga que temos de mudar o nome”.

Preocupado em atacar Chega

O presidente do Chega considerou que o primeiro-ministro e líder do PSD, Luís Montenegro, “está mais preocupado em atacar” o seu partido do que em governar e acusou sociais-democratas e socialistas de “distribuírem cargos”.

Ventura afirmou que “Luís Montenegro está mais preocupado em atacar politicamente os seus adversários, está mais preocupado em atacar politicamente o Chega, do que propriamente em governar”.

O presidente do Chega reagia às declarações do presidente do PSD, Luís Montenegro, que no domingo apelou ao PS e ao Chega para se “preocuparem menos em juntar-se um com o outro”, mas antes para se juntarem ao Governo para “decidir bem” sobre as necessidades dos portugueses.

André Ventura acusou o Governo de, sucessivamente, “apresentar medidas de cartaz, medidas de propaganda, sem nunca dizer quando as vai implementar, quando as vai executar ou como vai calendarizar”.

O líder do Chega considerou que “é uma corrida para umas eleições que o primeiro-ministro acha que serão a breve trecho e que leva a que, de forma desesperada, todos os dias sejam apresentadas medidas sem qualquer calendarização, materialidade ou execução, ou às vezes com cópia direta das medidas dos outros partidos”.

“Senhor primeiro-ministro, não é assim que lá irá, não é assim que conseguirá uma grande base de apoio para continuar a governar. E não é a atirar areia para os olhos dos portugueses que essa governação vai ser bem-sucedida, é a tomar decisões, levar a cabo medidas e fazer as reformas que o país precisa”, defendeu.

O presidente do Chega afirmou também que o que se tem “visto na governação do país nos últimos meses é o contrário do que diz o primeiro-ministro, é o PS e o PSD conluiados, ligados, para distribuírem cargos entre si, quer no parlamento, quer no Governo”.

O líder do Chega reiterou que o seu partido apoia propostas se considerar que são boas para os portugueses, independentemente do partido proponente, e referiu que tanto vota ao lado de PS, como de PSD. E deu como exemplo as medidas do partido para a imigração, indicando que “foi o PS e o PSD que se juntaram para que fossem inviabilizadas”.

Questionado sobre o Orçamento do Estado para o próximo ano, o presidente do Chega considerou que “é muito difícil, ainda por cima num cenário em que o Chega tem de votar a favor e não apenas limitar-se a olhar para o projeto, que venha a ser aprovado sem um acordo alargado de governação”.

“Mas o Chega sempre este disponível para esse acordo alargado de governação. Se há aqui algum causador de instabilidade foi o senhor primeiro-ministro ao rejeitar permanentemente essa possibilidade”, acusou, considerou que “essa é agora uma questão que o PS tem de decidir, se quer apoiar o orçamento e as medidas do governo do PSD”.

Nesta conferência de imprensa, André Ventura foi questionado também sobre a situação política na Madeira e a reunião com o Governo Regional com o objetivo de tentar consensualizar proposta para o novo programa do executivo, e disse que o Chega “não podia furtar-se ao diálogo”, porque considera que “vale sempre a pena”.

O presidente indicou que o partido vai continuar a insistir na saída de Miguel Albuquerque, condição que coloca para viabilizar o programa do governo.

Questionado sobre a posição do Chega caso o presidente do Governo Regional não deixe o cargo, André Ventura disse não fazer garantias pela estrutura regional do partido, lembrando que tem autonomia, mas insistiu que a “indicação nacional será sempre com Miguel Albuquerque, não”.

“Eu vejo difícil que esse apoio exista [dos deputados regionais do Chega] enquanto Miguel Albuquerque subsistir”, acrescentou, indicando só ver essa possibilidade “num cenário de absoluta necessidade, de absoluta instabilidade e caos”.

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