Primeiro-ministro português oferece empresas estatais ao Brasil

Por Igor Lopes
Do Rio para Mundo Lusíada

Primeiro-ministro de Potugal, Pedro Passos Coelho, em visita ao Rio. Foto: Ígor Lopes

Cerca de 200 pessoas, entre elas empresários, líderes da comunidade portuguesa e autoridades, estiveram num hotel em Copacabana, na Zona Sul do Rio, no último dia 21, durante um jantar promovido pela Câmara Portuguesa de Comércio e Indústria do Rio em homenagem a Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro de Portugal. Durante o encontro, o chefe de Governo português revelou estar atento ao capital brasileiro em relação às privatizações que vão acontecer no seu país. O premier falou ainda sobre os países de língua portuguesa e da visão estratégica sobre o Brasil.

Num jantar cuja ementa destacou o bacalhau, prato típico português, centenas de pessoas viram um primeiro-ministro disposto a se deixar seduzir pelo capital brasileiro. Durante o seu discurso, Passos Coelho mexeu com os empresários brasileiros presentes quando falou de privatizações. Este chefe de Governo anunciou, em bom português, que o capital das empresas brasileiras é bem-vindo em Portugal. Na lista de intenções de privatização figuram empresas-chave em Portugal como a TAP (empresa aérea portuguesa), ANA (espécie de Infraero portuguesa), CTT (correios) e Estaleiros de Viana do Castelo.

“E, por falar em privatizações, e aqui no Rio de Janeiro, com ilustres participantes como os que aqui tenho a minha frente, gostaria de reiterar que os capitais brasileiros são muitíssimo bem-vindos neste processo que está em curso”, afirmou Passos Coelho.

E a recíproca parece ser verdadeira. Durante a semana, o jornal português Expresso publicou uma notícia que dava conta de que o embaixador do Brasil em Portugal, Mário Vilalva, teria afirmado que “as empresas brasileiras vão apostar em força na onda de privatizações que o Estado português promoverá este ano”, tendo como alvo as empresas citadas no discurso do primeiro-ministro, além da área da construção naval, RTP, seguros e saúde. Um grupo brasileiro estaria interessado na TAP. Já os canais brasileiros Bandeirantes e Record estariam de olho no canal de televisão pública português RTP.

O Brasil já esteve interessado na primeira privatização lançada pelo atual Governo português, para a venda de 21,35% da EDP. As empresas brasileiras Cemig e Eletrobras chegaram a apresentar ofertas pela elétrica portuguesa, mas o processo foi ganho pela chinesa Three Gorges.

Relação estratégica com os países de língua portuguesa

Passos Coelho deixou claro que nutre uma visão estratégica específica em relação ao Brasil. Prova disso seria, segundo as suas palavras, a escolha que fez de vir ao Brasil na sua primeira visita fora da Europa. O mesmo caminho seguiu a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, que escolheu Portugal para a sua primeira visita fora do continente americano. “Estamos construindo uma verdadeira aliança estratégica”, sublinha este responsável lusitano.

Outro traço marcante da sua interlocução foi em relação aos países de língua portuguesa. Passos Coelho acredita que o mundo lusófono tem tudo para se transformar numa potência global. Segundo ele, há já sinal verde de líderes como a presidente do Brasil, de Angola e de Moçambique. A ideia é criar uma “aliança de prosperidade recíproca”.

Para este chefe de Governo, os países de língua portuguesa têm “disponibilidade de capitais, de recursos, de conhecimentos técnicos e humanos únicos em muitos setores de atividade”. Para ele, cada país lusófono “é uma porta de entrada para uma comunidade maior”.

Passos Coelho adiantou também que, em setembro, Brasil e Portugal vão realizar, em Brasília, uma Cimeira anual, que terá como tema o “Desenvolvimento Sustentável”. Nessa oportunidade, será oficializado o início do ano de Portugal no Brasil e do Brasil em Portugal.

Sobre as ações do seu Governo, que completou um ano no dia do jantar, Passos Coelho reiterou que serão feitas reformas, em seu país, na lei da concorrência, no código de processo penal e civil, o que vai possibilitar tornar a justiça mais célere, além das mudanças na lei do arrendamento e a aposta concreta na estabilidade financeira do país.

É hora de investir reciprocamente

Para Paulo Elísio de Souza, presidente da Câmara Portuguesa de Comércio e Indústria do Rio e parceiro influente do Governo português, este é o momento do Brasil descobrir um novo e moderno Portugal, “em que o mundo tem que acreditar”.

Paulo Elísio afirmou que a recuperação da economia carioca e os grandes eventos a serem sediados no Rio garantem a possibilidade de sucesso para quem pretende investir na cidade. Sobre Portugal, Paulo Elísio disse que o país mostra sinais de equilíbrio, e que, assim como o Rio, é atualmente o lugar mais apropriado para investimentos.

“Este é o momento das empresas brasileiras e portuguesas trabalharem lado a lado nos dois países para que os laços históricos que unem os dois povos estejam presentes nas suas atividades econômicas”, sublinha Paulo Elísio, que anunciou que, ainda este ano, será realizada a primeira mostra imobiliária portuguesa, cujo objetivo será divulgar imóveis acessíveis economicamente em Portugal, em alternativa às moradias que os brasileiros costumam adquirir em Miami.

Em relação ao Rio, Paulo Elísio disse não haver “possibilidade de retrocesso” no seu crescimento econômico. Este responsável pela Câmara Portuguesa mais antiga do mundo atesta ainda que a instituição trabalha prestando informações sobre a realização de negócios nos dois países, visando à aproximação de empresas que tenham interesses em comum. No dia seguinte ao jantar, a delegação portuguesa segui para a Colombia.

Autoridades marcaram presença

O jantar contou com a presença do Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Portas, e da Ministra da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território de Portugal, Assunção Cristas, além do embaixador de Portugal no Brasil, Francisco Ribeiro Telles, do cônsul-geral de Portugal no Rio, Nuno Bello, do presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), Pedro Reis, e do deputado da Assembleia da República de Portugal, Carlos Páscoa.

Entre as autoridades brasileiras, estavam o presidente do Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro, Thiers Montebello, o desembargador Luiz Felipe Francisco, a secretária Municipal de Defesa do Consumidor, Solange Amaral, e o secretário de Relações Internacionais do Estado do Rio de Janeiro, Pedro Spadale.

O jantar reuniu nomes dispostos a investir e, para ter acesso a possíveis “mercados”, o valor do jantar foi de 800 Reais para associados e mil Reais para convidados. Em moeda do mercado comum europeu, esses valores oscilaram entre 300 e 380 euros.

Parceiro e conterrâneo

Um dos parceiros mais ativos nesse deslocamento de Passos Coelho ao Brasil foi Nuno Bello, cônsul-geral de Portugal no Rio. Através do seu consulado, foram preparados aspectos logísticos da delegação nacional portuguesa. Essa entidade diplomática ficou responsável ainda por organizar o programa bilateral do primeiro-ministro português, no dia 21, que incluiu um encontro com o governador do Estado do Rio, Sérgio Cabral, uma visita ao Real Gabinete Português de Leitura e um jantar com empresários em Copacabana.

“Portugal trouxe uma delegação alargada que inclui dois ministros, um secretário de Estado, deputados da Assembleia da República, autarcas e diversos responsáveis de institutos, agências e universidades portuguesas que acompanham questões ambientais”, comentou Nuno Bello.

2 Comments

  1. Caro sr. Pedro Vieira, bom dia. Tem toda a razão no seu comentário. Por lapso, a informação saiu de forma equivocada. O chefe de Governo é Passos Coelho e o chefe de Estado é Cavaco Silva. Peço desculpas aos leitores por esse engano.

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