Fórum Econômico Mundial 2011

 

Neste final de janeiro merece atenção a 41ª edição do Fórum Econômico Mundial realizado entre 26 e 30 deste mês, em Davos, na Suíça. Como não poderia deixar de ser seu foco está na estabilização da economia global. Quatro pontos se destacam: a crise insistente da dívida pública na zona do euro; a guerra cambial e protecionista do comércio internacional; os conflitos sociais resultantes das ações dos governos com suas políticas fiscais e o desemprego em alta nos países. A nova ordem global com a participação das nações emergentes (o Bric – Brasil, Rússia, Índia e China) é outro grande eixo da reunião.

Sabe-se que o PIB norte-americano em 2010 cresceu 2,9% frente a 2009. Nesse ano sua economia havia recuado 2,6%. Houve, portanto, melhora. Porém, a maior economia do mundo ainda não se sente segura e, obviamente, todo o sistema trepida com ela. Precisa ampliar exportações, receber investimentos, passar credibilidade. A situação não está fácil. Outros também necessitam e todos estão inseguros.

O Fórum Econômico Mundial é uma organização internacional independente e opera como um espaço de discussão que reúne líderes mundiais, intelectuais, representantes de organizações não-governamentais e personalidades do mundo empresarial. O grupo se reúne anualmente para debater áreas diversas como governança corporativa e aquecimento global. Como o Fórum é um espaço de idéias e tem a presença da nata do capitalismo, muitas vezes é visitado por figurões de Hollywood ou astros do pop-rock, porque essas pessoas estão envolvidas com causas ambientalistas ou de luta contra a pobreza e aparecem para ‘pedir uma força’. É interessante também lembrar que sua localização na Suíça também serve para evitar a facilidade de acesso dos movimentos sociais que, ainda assim, aparecem para cobrar maior justiça desses senhores poderosos. Por isso, como contraposição, nasceu há 10 anos o Fórum Social Mundial, que iniciou em Porto Alegre e percorre o mundo, pensando em alternativas para enfrentar o capitalismo, sua exploração e, como se não bastasse isso, também suas crises sistêmicas. Como a que ainda estamos vivenciando.

O Fórum Econômico foi idealizado em janeiro de 1971 pelo professor alemão Klaus Schwab durante a reunião de um grupo de líderes europeus. Ele fundou o Fórum Europeu de Gerenciamento, com sede em Genebra, para que os empresários pudessem discutir como as empresas européias poderiam acompanhar a evolução das práticas empresarias em uso nos EUA. Em 1973 já tiveram que enfrentar os efeitos da guerra árabe-israelense e seus efeitos que resultaram na explosão do preço do petróleo, levando o mundo a buscar alternativas energéticas. Também foi palco de análise fim do câmbio fixo. Mais tarde, em 1987, o Fórum Europeu de Gerenciamento passou a se chamar Fórum Econômico Mundial. Em 1988, dentro da nova meta do encontro, isto é, tentar auxiliar a solução de conflitos, foi assinada a `Declaração de Davos` por Grécia e Turquia, que estavam na iminência de uma guerra.

Do ponto de vista brasileiro, em 2010, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi homenageado com o titulo de "Estadista Global". A economia brasileira, que passou os anos 1980 e 90 mal das pernas, com dívida interna e externa, ganhou importância. A premiação foi uma demonstração evidente de como a comunidade internacional tem enxergado o país nos últimos tempos. Aliás, há poucos dias, Moisés Naím, principal voz do Fórum Econômico Mundial para América Latina, chegou a chamar de "milagre" o fato de o Brasil ter crescido como ocorreu no período Lula e, ao mesmo tempo, ter reduzido a desigualdade. É verdade que a redução da desigualdade deu-se entre os salários apenas e não entre a renda do capital versus a do trabalho, que continua bastante forte e vai precisar bem mais do que políticas de bolsa ou um salário mínimo reajustado sem perder para a inflação. Mas, mesmo assim, Naím lembrou que países que crescem muito tendem a aumentar a desigualdade, caso, por exemplo, do gigante chinês. E isto não aconteceu por aqui.

Curiosamente, enquanto essa entrevista estava sendo dada, surgia um novo dado interessante, corroborando a expansão do consumo pelas camadas menos ricas. A classe C, grupo de consumidores com renda familiar entre R$ 1.115 e R$ 4.806, já responde por dois terços dos novos viajantes de avião, de acordo com dados do instituto Data Popular.

Nesta quinta houve, inclusive, uma sessão batizada "Panorama do Brasil" onde participaram Luciano Coutinho, do BNDES, Alexandre Tombini, do Banco Central e o novo chanceler Antonio Patriota. A preocupação sobre o Brasil por parte dos analistas recai sobre a crença de que o governo gasta muito e, assim, é preciso manter os juros elevados para combater a inflação de demanda. Como resultado, os juros altos acabam por atrair investidores, especialmente o capital especulativo, o que valoriza o Real e eleva o câmbio, estimulando a chamada ‘desindustrialização’, o aumento da importação. A presidenta Dilma Rousseff assumiu com consciência dessas questões e o governo afirma ter o controle sob rédeas curtas. Torcemos para que sim.

As discussões sobre formulas para uma nova acomodação do capitalismo globalizado permanecem. É muito difícil equacionar interesses tão múltiplos e deveras egoístas. Há muito se sabe que as nações mais ricas, se desejassem efetivamente, poderiam ajudar os mais pobres com suas crises de alimentos, autêntico flagelo humano e, na prática, a coisa não passa de um jogo de cena. Fica mais difícil ainda acreditar em acordos quando se trata de competidores do comércio internacional e suas demandas próprias. Seja neste Fórum ou na Organização Mundial do Comércio. O Brasil que se cuide. Que proteja seu mercado interno. Ele já salvou o país no último tsunami econômico. Se compararmos com outros centros, como a Europa e os EUA, se não foi uma marolinha, por aqui foi mesmo uma coisa mais leve.

 

 

Prof. José de Almeida Amaral JúniorProfessor universitário em Ciências Sociais; Economista, pós-graduado em Sociologia e mestre em Políticas de Educação; Colunista do Jornal Mundo Lusíada On Line, do Jornal Cantareira e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz de São Paulo.

 

 

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